Texto e fotografia: Pedro Correia
Segundo Cossío (1988); Neves (1992) e
Lucas (2006), existe durante o século XIX uma variedade de toiro bravo
originário de Portugal. No entanto, Neves (1992), afirma que o toiro de lide em
Portugal, não apresenta bibliografia abundante, nem está estudado com
suficiente profundidade. Cossío (1988), refere a existência de poucas
ganadarias puramente autóctones portuguesas, como por exemplo a de Rafael José
da Cunha.
À semelhança dos festejos taurinos da
nobreza que ocorriam em Espanha, o mesmo sucedia em Portugal. É com o gado
morucho das Reais Manadas, propriedade da Casa Real Portuguesa, desde os tempos
do rei D. João IV, pastoreando nas terras do Infantado, que englobavam, entre
muitas outras, as do Senhorio de Pancas, de Samora Correia a Alcochete, que
nasce a vontade de criar toiros com condições de lide (Neves, 1992). Segundo o
mesmo autor, até a este período não definem os bovinos como especificamente criados
para a lide. Tal importância começa a ter substancial interesse a partir do
momento em que as ganadarias portuguesas foram cruzadas com toiros espanhóis.
Este procedimento tem inícios através da importação de gado proveniente da
Casta Vasquenha (50 vacas e 2 sementais), pertença na época ao Rei de Espanha
D. Fernando VII, pela rainha D. Carlota Joaquina, mãe de D. Miguel I.
Segundo Neves (1992) os animais
provenientes de Espanha são acomodados separadamente das Reais Manadas, em
Salvaterra de Magos, no ano de 1830, contudo após as guerras entre liberais e
absolutistas, D. Pedro distribui a ganadaria de casta de D. Miguel pelos seus
apaniguados, Marquês de Belas e Comendador Dâmaso Xavier dos Santos, o qual
seguidamente alienou vacas da mesma casta ao Marquês de Ponte de Lima e a
Francisco de Paula Leite, à Casa Cadaval e ao Dr. Rafael José da Cunha, que por
sua vez vende vacas ao Barão da Junqueira.
Segundo Almeida et
al. (1953a) e Neves (1992), houve um aporte indiscriminado de produtos
cruzados entre a Casta Vasquenha e gado da terra, entre Manuel da Silveira
Brito (Marquês de Ponte de Lima) e diversos criadores, entre os quais o Conde
de Sobral, Barão de Salvaterra de Magos, e Estêvão Augusto Oliveira, tendo este
adquirido à Casa Real a Herdade de Pancas, do património do Infantado, ao
Marquês de Vagos, a Máximo da Silva Falcão, a João Veloso Horta, sendo porem
certo que esta dispersão do sangue “vasquenho”, veio purificar-se em algumas
vacas claramente moruchas. Define Neves (1992) que é o toiro de lide criado em
Portugal após o fim das Guerras Liberais (1834) cruzamento entre a casta do
gado confiscado a D. Miguel de Bragança e o toiro da terra, o qual definiu um
tipo de toiro com caracteres fenotípicos bem marcados que pensamos ser lícito
de qualificar de “toiro português” (Casta Portuguesa), pois já se apresenta
qualidades de bravura bastante acentuadas, o que não acontecia com o antigo
toiro da terra cruzado com os moruchos da Galiza e norte do Pais.
A evolução do toureio e
a importação de ganadarias completas para Portugal vai sendo maior e a
designada casta portuguesa vai sendo eliminada (Neves, 1992 e Castro, 2012).
Segundo Lucas, (2006)
hoje em dia apenas reside em Portugal um pequeno núcleo de animais de Casta
Portuguesa, nomeadamente nas ganadarias de Vaz Monteiro e Irmãos Dias,
residindo algo na de Vale do Sorraia. No entanto, o mesmo autor refere vários
encastes derivados da casta portuguesa, nomeadamente o de Vaz Monteiro
(ganadaria Vaz Monteiro), Norberto Pedroso (ganadaria Irmãos Dias), encaste de
Lafões, J. Fagundes, Castro Parreira e Dinis Fernandes, sendo estes dois
últimos representados por núcleos de animais presentes em ganadarias açorianas.
Texto extraído de:
Correia, Pedro Bettencourt Cardoso – "Posicionamento genético do gado
bravo da ilha Terceira em relação à Raça Brava de Lide". Angra do
Heroísmo : Universidade dos Açores. 2012. IX, 85 f.. Dissertação de
Mestrado.
Baseado em:
·
Almeida, J. D; Perez, R; Nunes, L; Baptista, F. (1953). História da
Tauromaquia Técnica e Evolução Artística do Toureio. Artis, Lisboa. I volume
17-32.
· Castro, E. L. F. (2012). Ganadaria brava fundada por António Joaquim
Correia de Castro, Meu Pai, meu maior amigo… Novo Burladero, nº278:30-31.
· Cossío, J. M. (1988). EL COSSIO: LOS TOROS, Tratado Técnico e Histórico.
Tomo I. Espasa-Calpe. X Edição.
· Lucas, V. (2006) – Ganadarias Portuguesas 2006. Ed. Associação
Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, Porto Alto, 30-150 pp.
·
Morais, A. M. (1992). A Praça de Toiros de Lisboa – Campo Pequeno. Fnac,
500-700 pp.
·
Neves, F. (1992) O Toiro de Lide em Portugal. Edições Inapa 16-87 pp.
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