quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Gado Bravo e as Pastagens da Ilha Terceira



 

 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

 

Devido às condições climáticas dos Açores, o pastoreio do gado bovino é possível praticamente todo o ano e na maioria das ocasiões. O clima temperado húmido com influência marítima, aliado a solos férteis, proporciona excelentes condições naturais para a produção de pastagem e para o pastoreio. No entanto, durante alguns períodos do ano a produção de pastagem é insuficiente para cobrir as necessidades alimentares do efectivo bovino, utilizando-se nesta situação o recurso de forragens conservadas, como complemento alimentar ao pastoreio. Na ilha Terceira há claramente zonas pastagens claramente delimitadas pela altitude. Em Sousa (2000) observa-se uma classificação das pastagens da ilha Terceira de acordo com a altitude, onde o gado bravo é inserido nas de maior elevação, tal como é do conhecimento geral da sociedade local terceirense.

 

As pastagens podem então ser classificadas como de baixa altitude, quando abaixo dos 250 m. Estas pastagens geralmente estão encostadas à orla marítima e aproximam-se das moradias das gentes da ilha Terceira, já que a maioria das freguesias e cidades encontram-se na beira litoral. Estas pastagens, muitas vezes servem de abrigo ao gado manso no Inverno, e, que, no Verão, pasta em terras mais altas para se protegerem de uma seca da estação mais quente do ano.

 

 

As pastagens classificadas em médias-altas estão compreendidas entre 250 a 450 m de altitude, onde se estende por uma importante área de pastagens permanentes e que definem as bacias leiteiras mais representativas da Região, nomeadamente, aquela conhecida por Paul, e actualmente bem conhecida no mundo do turismo insular como manta de retalhos, que tem vista do topo do maciço da Serra do Cume. Nestas pastagens semeadas, abundam espécies como os azevéns, nomeadamente os de ciclo vivaz ou perene (Lolium perene) e o trevo branco (Trifolium repens). Estas pastagens de média altitude, são a grande base de sustento da produção leite de vaca da ilha, já que têm erva durante todo o ano. Inverno e Verão são as estações anuais onde há um decréscimo na produção de erva.

 

 

Nas zonas de maior altitude (> 450 m), as condições climáticas extremam-se (elevada precipitação e humidade, zonas de nevoeiro e elevada nebulosidade, redução do numero de horas de luz e temperaturas mais baixas), o que normalmente associado a declives acentuados, aumenta as limitações à produção. A esta altitude predominam as pastagens permanentes de menor valor, geralmente naturais ou seminaturais. São nestas pastagens de menor produtividade com espécies de baixo valor nutritivo e de grande resistência ao encharcamento, onde habita o gado bravo da ilha Terceira. As condições de rusticidade da raça Brava permitem rentabilizar estes terrenos que mostram dificuldades acrescidas à produção de leite e carne de outras raças de bovinos, ou até pequenos ruminantes. Assim sendo, a criação do gado bravo, por intermédio das ganadarias, resulta num meio eficiente de rentabilização do espaço que envolve o interior da ilha Terceira, acabando por não modificar em demasia a paisagem e ex-libris ecológico e turístico da ilha.

 

 

Baseado em:

 

Sousa, P. (2000). Avaliação da Qualidade da Pastagem para o Pastoreio em 8 bacias leiteiras da Ilha Terceira. Relatório final de curso da Universidade dos Açores. Angra do Heroísmo.

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