Texto: João Pedro Silva
Fotografia: Pedro Correia
A saída
do toiro à arena representa um momento único e espectacular, fundamentalmente
para o aficionado. O aparecer do toiro pela porta dos sustos produz sempre uma
sensação de admiração e beleza, no entanto os profissionais (matadores, bandarilheiros,
picadores, apoderados, conselheiros) que se encontram na trincheira fazem uma
leitura de todo distinta do aficionado. Nesse preciso momento, a arena
converte-se na primeira montra do milagre da bravura, e para essa montra há que
olha-la e analisa-la meticulosamente desde o primeiro instante. Ao aficionado
ou simples admirador da festa e toiros, é-lhes mais agradável ou bonito, um
toiro que expluda de dentro dos currais com uma velocidade furiosa, investindo
a tudo quanto se mexe e estampando a sua casta contra os burladeros. De outro
prisma, os toureiros preferem uma saída mais pausada, cadenciada, de acordo com
essa mudança que o próprio toiro é submetido, tentando o toiro aperceber-se
cautelosamente de onde está e onde chegou. Esse exame calculista e pausado que
o animal faz na sua entrada na arena, permite ao toureiro estudar as suas
“hechuras”, que são o primeiro espelho do que o toiro pode levar dentro, de
acordo, com o encaste, a ganadaria, a família,etc e daí começa a o
reconhecimento da quantidade de bravura que ele leva nas suas veias, no seu
sangue.
Podendo
parecer algo precipitado, o primeiro exame que é feito a um toiro é o seu
galope. Embora sendo demasiado cedo para tirar conclusões definitivas, o toiro
que galopa com cadência, alegria e vivacidade está relacionado normalmente a um
toiro que posteriormente pode servir na muleta. Muitos toureiros afirmam,
inclusive, que os toiros que lhes tocaram em sorte que galopavam com elegância
e com temple raramente falhavam; por outro lado, os que trotavam, de forma
demasiado conservadora, eram normalmente toiros de má nota, acabando por não
investir. Para observar essa primeira condição do toiro, o ideal será que os
bandarilheiros chamem o toiro ao burladero mas de forma que o toiro não esbarre
neste. Deve ser um toque suave que dê confiança ao toiro, um toque de carinho
que traga o toiro até eles e que serve para observar se o toiro sabe ao que vai
e o que faz. É o segundo exercício do primeiro dos exames onde se revela também
que recorrido tem e com que “fijeza” acode aos cites.
Vistas
as “hechuras” do toiro, o seu galope e “temple” da investida e a sua codícia
perante as chamadas, já se tem uma avaliação bastante fiável de como vai reagir
o toiro e como se vai comportar durante a lide. O toureiro já registou
mentalmente todos esses passos da análise e desde aqui começa o capítulo mais
importante da lide: descobrir o que pode mais, se a casta brava do animal
selvagem, se a inteligência, galhardia e valor do homem.

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