quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Do arraial para nossas casas!




 
Texto: André Cunha
Fotografia: Pedro Correia
 
Com 16 letras se escreve "Empreendedorismo", essa palavra cara que zumbe nos nossos ouvidos de dois em dois dias. Todos a usam, excelente na teoria mas poucos a sabem pôr em prática. Fugindo à regra, há mais de duas décadas alguém inocentemente começou com um "projecto" e passados largos anos é prova viva do sucesso. Não há prateleira de aficionado que não tenha um conjunto de cassetes ou DVD's de touradas e marradas. Já são meia dúzia de "empresas" que apostam neste mercado. A moda veio para ficar.
 
Instruções: 1- Adquire-se a caixinha numa loja perto de si (publicamente é melhor não falar em piratear). 2- Coloca-se o disco ou cassete num dispositivo adequado. 3- Se sofrer de incontinência aconselha-se uso de fraldas. 4- Está pronto para duas horas de gargalhada.
 
Estudos minuciosos, elaborados por um boémio numa tasca e com a quarta classe, revelaram que tais filmagens têm poderes fantásticos, forças hipnotizantes e estáticas. Pára o turista, pára o avô, o neto, pára o padre e o padeiro. Em ruas e ruelas, lojas de finura, tascas ou cafés, lá estão as negras caixas mágicas transmitindo instantâneos das touradas, marradas e bonitos passes dos mais destemidos. Amontoam-se em frente às vitrines. Pára toda a gente, ninguém fica indiferente.
 
Para gáudio da maioria, surgem os poderes cómicos. Até parece irónico mas é sobre-humano escapar a uma gargalhada. Rostos que se abrem, bochechas que flutuam, e olhos lacrimejantes, resultado de uns toques e repiques.
 
Tal estudo, também faz referência aos poderes maléficos, ou será que rir do azar dos outros é saudável? You know fair-play? Meus amigos, toiros e gente tola paredes altas.
 
Este é o resultado final de algo que começa muito antes. São precisas horas e horas de filmagens, papel que cabe aos muitos operadores que se vêm pelos arraiais. Chegam com câmara ao ombro e escadote entre mãos. Colocam-se em pontos estratégicos, normalmente postes de electricidade. Não são aves raras mas pousam em ninhos de ferro, aperaltam-se a preceito, e com verdadeiros olhos de falcão aguardam captar aquele momento. Não há grito de "Acção!" nem clique da claquete, o importante é ter atenção. Filma-se o rapazinho que puxa a corda, o vendedor de gelado, velhos á conversa em palanques, música e cantoria, gente que manda beijos para o Canadá e Massachusetts... Enfim, regista-se tudo, e o toiro muitas vezes fica para segundo plano. Já me esquecia, filmam-se também muitas moças bonitas, uns olhares sexys e decotes generosos. Um aviso á navegação, cuidado com os ciumentos! Ou volta e meia cai algum do poste a baixo.
 
Resumindo, estes DVD's, outrora cassetes de VHS, são verdadeiros fenómenos dentro e fora de portas, antídoto para as saudades das nossas comunidades, e capazes de originar micro economias.
 
Muito haveria para contar mas não estico mais a corda. É melhor ficar por aqui, antes que o azar toque à porta e que eu seja um dos actores principais do dvd nº X.
 
-Eh piquene, tás tolo? Raça excomungada, pega direite!
 
PS: O desejo de um ano 2013 promissor para todos os leitores e população em geral.
 
 
 

4 comentários:

  1. O artigo está bem escrito, interessante e dá uma visão real do que se passa. Parabéns.

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  2. Sempre que possível temos de marcar e escrever sobre a nossa paixão, por isso os meus parabéns pelo teu artigo.

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  3. Obrigado Srª Fátima pelas suas palavras. André Cunha

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  4. Cara Sra. Fátima Albino, agradecemos as suas felicitações, que vão na íntegra para o nosso membro e grande escritor André Cunha da ilha Graciosa.

    Com os melhores cumprimentos,

    O administrador de Toiros & Açores

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