Texto: André Cunha
Fotografia: Pedro Correia
Com 16 letras se escreve
"Empreendedorismo", essa palavra cara que zumbe nos nossos ouvidos de
dois em dois dias. Todos a usam, excelente na teoria mas poucos a sabem pôr em
prática. Fugindo à regra, há mais de duas décadas alguém inocentemente começou
com um "projecto" e passados largos anos é prova viva do sucesso. Não
há prateleira de aficionado que não tenha um conjunto de cassetes ou DVD's de
touradas e marradas. Já são meia dúzia de "empresas" que apostam
neste mercado. A moda veio para ficar.
Instruções: 1- Adquire-se a
caixinha numa loja perto de si (publicamente é melhor não falar em piratear).
2- Coloca-se o disco ou cassete num dispositivo adequado. 3- Se sofrer de
incontinência aconselha-se uso de fraldas. 4- Está pronto para duas horas de
gargalhada.
Estudos minuciosos,
elaborados por um boémio numa tasca e com a quarta classe, revelaram que tais
filmagens têm poderes fantásticos, forças hipnotizantes e estáticas. Pára o
turista, pára o avô, o neto, pára o padre e o padeiro. Em ruas e ruelas, lojas
de finura, tascas ou cafés, lá estão as negras caixas mágicas transmitindo
instantâneos das touradas, marradas e bonitos passes dos mais destemidos.
Amontoam-se em frente às vitrines. Pára toda a gente, ninguém fica indiferente.
Para gáudio da maioria,
surgem os poderes cómicos. Até parece irónico mas é sobre-humano escapar a uma
gargalhada. Rostos que se abrem, bochechas que flutuam, e olhos lacrimejantes,
resultado de uns toques e repiques.
Tal estudo, também faz
referência aos poderes maléficos, ou será que rir do azar dos outros é
saudável? You know fair-play? Meus
amigos, toiros e gente tola paredes altas.
Este é o resultado final de
algo que começa muito antes. São precisas horas e horas de filmagens, papel que
cabe aos muitos operadores que se vêm pelos arraiais. Chegam com câmara ao
ombro e escadote entre mãos. Colocam-se em pontos estratégicos, normalmente
postes de electricidade. Não são aves raras mas pousam em ninhos de ferro,
aperaltam-se a preceito, e com verdadeiros olhos de falcão aguardam captar
aquele momento. Não há grito de "Acção!" nem clique da claquete, o
importante é ter atenção. Filma-se o rapazinho que puxa a corda, o vendedor de
gelado, velhos á conversa em palanques, música e cantoria, gente que manda
beijos para o Canadá e Massachusetts... Enfim, regista-se tudo, e o toiro
muitas vezes fica para segundo plano. Já me esquecia, filmam-se também muitas
moças bonitas, uns olhares sexys e decotes generosos. Um aviso á navegação,
cuidado com os ciumentos! Ou volta e meia cai algum do poste a baixo.
Resumindo, estes DVD's,
outrora cassetes de VHS, são verdadeiros fenómenos dentro e fora de portas,
antídoto para as saudades das nossas comunidades, e capazes de originar micro
economias.
Muito haveria para contar
mas não estico mais a corda. É melhor ficar por aqui, antes que o azar toque à
porta e que eu seja um dos actores principais do dvd nº X.
-Eh piquene, tás tolo? Raça
excomungada, pega direite!
PS: O desejo de um ano 2013
promissor para todos os leitores e população em geral.
O artigo está bem escrito, interessante e dá uma visão real do que se passa. Parabéns.
ResponderExcluirSempre que possível temos de marcar e escrever sobre a nossa paixão, por isso os meus parabéns pelo teu artigo.
ResponderExcluirObrigado Srª Fátima pelas suas palavras. André Cunha
ResponderExcluirCara Sra. Fátima Albino, agradecemos as suas felicitações, que vão na íntegra para o nosso membro e grande escritor André Cunha da ilha Graciosa.
ResponderExcluirCom os melhores cumprimentos,
O administrador de Toiros & Açores