terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O Chocalho



 

Texto: Pedro Correia

Fotografia: Nuno Silva

 

O chocalho, instrumento de origem milenar, é um pormenor que muitas vezes passa despercebido no quotidiano dos que lidam com o gado. No entanto, não deixa de ser fundamental, quer ao nível da sua utilidade, quer do ponto de vista cultural.

 

Após a interessante ideia lançada pelo aficionado terceirense Nuno Silva, autor da fotografia de um chocalho com o ferro da ganadaria Rego Botelho anexada ao texto, fomos pesquisar a importância deste instrumento tão utilizado no maneio do gado e em especial no das reses bravas.

 

Segundo Purroy (2003), o chocalho é peça fundamental no som emitido desde os pescoços dos cabrestos ou chocas. O som produzido pelo choque do badalo nas paredes do chocalho, permite a orientação das reses bravas na sua condução em diferentes meios, tais como, campo, arenas ou estradas em caso de encierros ou largadas.

 

No meio pecuário em geral o chocalho continua a ser instrumento de fundamental importância, nomeadamente em auxílio dos pastores, na detecção de animais criados a campo aberto e que se afastam dos rebanhos por diversas razões, nomeadamente como outros bovinos, cabras ou ovelhas (Cão de Gado, 2007). Contudo, hoje em dia a actividade de fabricar chocalhos, executada pelos chocalheiros, está em vias de extinção, dado ao aparecimento das cercas e chips para controlo e protecção dos animais dos rebanhos, bem como, a dureza inerente à actividade de construção destes artefactos (Ferreira e Carvalho, 2011).

 

Actualmente, a arte dos chocalheiros possui um núcleo de resistência em Alcáçovas, Viana do Alentejo e estão a ser reunidos esforços para que a arte de fazer chocalhos aceda à lista da Unesco de património imaterial (Ferreira e Carvalho, 2011). Alcáçoas no Alentejo é ponto de referência destes utensílios metálicos em Portugal. Chocalheiros como Joaquim Sim Sim, os Maias, ou os Pardalinhos, bem como, a feira do Chocalho realizada no mês de Julho, ou o “Museu do Chocalho” de João Chibeles Penetra, são referências da importância que o chocalho tem por nesta terra lusa (Lima, 2011 citado por Ferreira e Carvalho, 2011).

 

O chocalho é um artefacto, que, pela relação que possui com a criação de gado, em grande medida nas transumâncias do território peninsular, que determinava a deslocação sazonal de milhares de cabeças, entre a montanha e a planície no Inverno, e no sentido contrário, quando chegava o tempo quente. A constituição do chocalho, é portanto, a transmissão de cultura dos transumantes, que desde os tempos medievais percorrem trilhos entre a Cantábria e os campos de Ourique. De acordo com Lima (2011) citado por Ferreira e Carvalho (2011) «cada chocalheiro que ainda resiste tem nas suas mãos, além de uma “arte e uma técnica que vêm directamente do período romano”, também “este encontro de culturas ibero-pirenaico”, sendo em si mesmo “a chave que desoculta toda uma história peninsular, mostrando que, afinal, estamos em contacto cultural”.».

 

Em outros locais de Portugal, também existem chocalheiros, como em Asseiceira, aldeia do concelho de Tomar, através da pessoa de Manuel Cecílio, ou nos Açores, em particular na ilha Terceira pela mão de António Ferreira da Costa, na freguesia do Posto Santo, Grota do Medo (s/a, 2004; Bagos de Uva, 2009 e Tavares, 2010). Segundo Bagos de Uva (2012), o chocalheiro da ilha Terceira possui uma colecção de chocalhos com os ferros de todas as ganadarias da ilha fundadas a partir de 1909, tanto extintas, como as não extintas. À semelhança de Ferreira e Carvalho (2011), os seus chocalhos de António Ferreira da Costa são maioritariamente vendidos para decoração e coleccionismo, como é o caso deste exemplar de Nuno Silva.

 

 

 

Baseado em:

 

·         Bagos de Uva (2009). O último artesão de chocalhos nos Açores. Disponível em: http://bagosdeuva.blogspot.pt/2009/10/o-ultimo-artesao-de-chocalhos-nos.html. Consulta efectuada a 25 de Dezembro de 2012.

·         Cão de gado (2007). Chocalhos e coleiras para o gado. Grupo Lobo. Disponível em: http://lobo.fc.ul.pt/caodegado/chocalhos-coleiras.html. Consulta efectuada em 24 de Dezembro de 2012.

·         Ferreira C; Carvalho, F. S. (2011). Arte dos chocalheiros mais perto de ser reconhecida pela Unesco - A chocalhar se conta a história peninsular. Diário do Alentejo. Ano LXXIX, Nº 1521:2-3 (II Série). Disponível em: http://da.ambaal.pt/noticias/?id=377. Consulta efectuada em 25 de Dezembro de 2012.

·         Purroy , A. U. (2003). Comportamiento del toro de lidia EN EL CAMPO, EN EL RUEDO. Universidad Publica de Navarra. 27-38.

·         S/a. (2004). O Cecílio dos chocalhos. Semanário O Mirante. Disponível em:http://semanal.omirante.pt/index_access.asp?idEdicao=126&id=9718&idSeccao=1458&Action=noticia. Consulta efectuada em 25 de Dezembro de 2012.



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