Texto: Pedro Correia
Fotografia: Nuno Silva
O chocalho, instrumento de origem milenar, é um
pormenor que muitas vezes passa despercebido no quotidiano dos que lidam com o
gado. No entanto, não deixa de ser fundamental, quer ao nível da sua utilidade,
quer do ponto de vista cultural.
Após a interessante ideia lançada pelo aficionado
terceirense Nuno Silva, autor da fotografia de um chocalho com o ferro da
ganadaria Rego Botelho anexada ao texto, fomos pesquisar a importância deste
instrumento tão utilizado no maneio do gado e em especial no das reses bravas.
Segundo Purroy (2003), o chocalho é peça fundamental
no som emitido desde os pescoços dos cabrestos ou chocas. O som produzido pelo
choque do badalo nas paredes do chocalho, permite a orientação das reses bravas
na sua condução em diferentes meios, tais como, campo, arenas ou estradas em
caso de encierros ou largadas.
No meio pecuário em geral
o chocalho continua a ser instrumento de fundamental importância, nomeadamente
em auxílio dos pastores, na detecção de animais criados a campo aberto e que se
afastam dos rebanhos por diversas razões, nomeadamente como outros bovinos,
cabras ou ovelhas (Cão de Gado, 2007). Contudo, hoje em dia a actividade de
fabricar chocalhos, executada pelos chocalheiros, está em vias de extinção,
dado ao aparecimento das cercas e chips para controlo e protecção dos animais
dos rebanhos, bem como, a dureza inerente à actividade de construção destes
artefactos (Ferreira e
Carvalho, 2011).
Actualmente, a arte dos
chocalheiros possui um núcleo de resistência em Alcáçovas, Viana do Alentejo e
estão a ser reunidos esforços para que a arte de fazer chocalhos aceda à lista
da Unesco de património imaterial (Ferreira e Carvalho, 2011). Alcáçoas no
Alentejo é ponto de referência destes utensílios metálicos em Portugal. Chocalheiros
como Joaquim Sim Sim, os Maias, ou os Pardalinhos, bem como, a feira do
Chocalho realizada no mês de Julho, ou o “Museu do Chocalho” de João Chibeles
Penetra, são referências da importância que o chocalho tem por nesta terra lusa
(Lima, 2011 citado por Ferreira e Carvalho, 2011).
O chocalho é um artefacto, que, pela relação que possui
com a criação de gado, em grande medida nas transumâncias do território peninsular,
que determinava a deslocação sazonal de
milhares de cabeças, entre a montanha e a planície no Inverno, e no sentido
contrário, quando chegava o tempo quente. A constituição do chocalho, é
portanto, a transmissão de cultura dos transumantes, que desde os tempos
medievais percorrem trilhos entre a Cantábria e os campos de Ourique. De
acordo com Lima (2011) citado por Ferreira e Carvalho (2011) «cada chocalheiro
que ainda resiste tem nas suas mãos, além de uma “arte e uma técnica que vêm
directamente do período romano”, também “este encontro de culturas
ibero-pirenaico”, sendo em si mesmo “a chave que desoculta toda uma história
peninsular, mostrando que, afinal, estamos em contacto cultural”.».
Em outros locais de Portugal, também existem
chocalheiros, como em Asseiceira, aldeia do concelho de Tomar, através da
pessoa de Manuel Cecílio, ou nos Açores, em particular na ilha Terceira pela
mão de António
Ferreira da Costa, na freguesia do Posto Santo, Grota do Medo (s/a, 2004; Bagos
de Uva, 2009 e Tavares, 2010). Segundo Bagos de Uva (2012), o chocalheiro da ilha
Terceira possui uma colecção de chocalhos com os ferros de todas as ganadarias
da ilha fundadas a partir de 1909, tanto extintas, como as não extintas. À
semelhança de Ferreira e Carvalho (2011), os seus chocalhos de António Ferreira
da Costa são maioritariamente vendidos para decoração e coleccionismo, como é o
caso deste exemplar de Nuno Silva.
Baseado em:
·
Bagos de Uva (2009). O último artesão de chocalhos nos
Açores. Disponível em: http://bagosdeuva.blogspot.pt/2009/10/o-ultimo-artesao-de-chocalhos-nos.html.
Consulta efectuada a 25 de Dezembro de 2012.
·
Cão de gado (2007). Chocalhos
e coleiras para o gado. Grupo Lobo. Disponível em: http://lobo.fc.ul.pt/caodegado/chocalhos-coleiras.html. Consulta efectuada em 24 de Dezembro de 2012.
·
Ferreira C; Carvalho, F.
S. (2011). Arte dos chocalheiros mais perto de ser reconhecida
pela Unesco - A
chocalhar se conta a história peninsular. Diário do Alentejo. Ano LXXIX, Nº 1521:2-3 (II Série). Disponível em: http://da.ambaal.pt/noticias/?id=377.
Consulta efectuada em 25 de Dezembro de 2012.
·
Purroy , A. U. (2003).
Comportamiento del toro de lidia EN EL CAMPO, EN EL RUEDO. Universidad Publica
de Navarra. 27-38.
·
S/a. (2004). O Cecílio
dos chocalhos. Semanário O Mirante. Disponível em:http://semanal.omirante.pt/index_access.asp?idEdicao=126&id=9718&idSeccao=1458&Action=noticia.
Consulta efectuada em 25 de Dezembro de 2012.
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