segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Comeres de 365 ou 366 Quotidianos


 
 
 
Texto e fotografia: Pedro Correia
 
Por baixo de um intenso manto de nevoeiro no “Mato” da ilha Terceira, os imponentes toiros bravos, deleitam-se com a harmoniosa silagem de erva, que, ganadeiros, maiorais e pastores lhes entregam todos os 365, ou 366 dias do ano.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Aficións das Cordas





 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Com corda em torno do pescoço do toiro bravo, estimula-se a afición ao toiro nesta ilha Terceira de Jesus Cristo. Contudo, em outros cantos do mundo, a corda é artefacto que aliado ao toiro, espalha aficións.

 

Em Ponte de Lima, milhares de cidadãos portugueses e forasteiros reúnem-se, nesta cidade do norte de Portugal continental na manifestação típica da vaca das cordas (Trigo, 2006 e Campelo, 2007).

 

Em Espanha várias localidades tem festejos taurinos onde a corda é amarrada ao toiro bravo. Alguns exemplos disso são o da província de Jaén, mais propriamente em Beas de Segura, onde as pessoas conduzem um toiro amarrado por uma corda até à igreja em honra do evangelista São Marcos. Em Grazalema, na província de Cádiz, o Toro de la Virgen, é outro toiro ensogado (termo espanhol alusivo ao toiro com corda) (Olivares, 1997 e Romero, 2006). Na região de Navarra (Espanha), em Ribera de Lodosa, outro toiro amarrado por uma corda, honra a Virgem das Angustias, padroeira desta localidade espanhola (http://www.turismo.navarra.es/esp/organice-viaje/recurso/Ocio-y-cultura/4042/Toro-con-soga.htm, 2012).

 

 

 

Baseado em:

·         Campelo, A. (2007). A Vaca das Cordas. Património Imaterial de Ponte de Lima, Ponte de Lima, 2007, págs. 41-43. Disponível em: http://pontedelima.com/a-vaca-das-cordas/. Consulta efectuada a 29 de Dezembro de 2012.

·         Olivares, J. C. P (1997). EL DIOS INDÍGENA BANDUA Y EL RITO DEL TORO DE SAN MARCOS. Complutum, 8, ¡997: 205-221

·         Romero, P. S. (2006). La Tauromaquia del Carmelo. El Toro de la Virgen de la Grazalema (Cádiz) y El Toro de San Marcos de Beas (Jaén). Revista de Andalucia de Estudios Sociales;nº 6: 147-157.

·         Trigo, M. P. (2006). UM RETRATO HISTÓRICO DA VACA DAS CORDAS. Alto Minho, Revista de Setembro de 2006. Disponível em: http://vacadascordas.no.sapo.pt/index.html. Consulta efectuada a 29 de Dezembro de 2012.

·         Turismo - Navarra (2012). Toro con soga. Disponível em: http://www.turismo.navarra.es/esp/organice-viaje/recurso/Ocio-y-cultura/4042/Toro-con-soga.htm. Consulta efectuada a 29 de Dezembro de 2012.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Violência da Querença

 

 






Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Diz-se que um toiro tem uma querença, quando procura um determinado local e tenta permanecer no mesmo, muitas vezes com o intuito de se sentir mais comodo para se defender contra adversidades (Esteban, 2004 e Silva, 2012). As querenças podem desenvolver-se no campo, arena, ou inclusive em festejos populares, como é a tourada à corda.

 

Embora nas touradas à corda, haja uma maior dificuldade em detectar querenças, muito devido às irregularidades dos arraiais, por vezes observam-se alguns toiros, com uma tendência de buscar permanentemente a proximidade das paredes, ou mesmo o local de permanência das gaiolas que os transportam.

 

Nas corridas de toiros a detecção de querenças é mais evidente, havendo uma maior probabilidade dos toiros desenvolverem querenças junto à porta dos curros, pois é dai que saem à arena e é o sítio onde o odor dos restantes bovinos que aguardam a saída ao redondel, é mais intenso. No entanto, também podem ser desenvolvidas querenças em qualquer outro terreno da arena, nomeadamente nos médios (centro da arena), tércios (entre centro e tábuas), ou tábuas, independentemente da proximidade da porta dos curros (Esteban, 2004).

 

Por norma, as acções realizadas a uma rês brava estão estritamente relacionadas com as querenças. Isto é, a origem de uma querença num bovino bravo, pode ser em grande medida, devido ao maneio executado pelo Homem, independentemente de ser no campo, caminhos ou arenas. Por sua vez, é necessário usar o conhecimento das mesmas querenças das reses bravas para um maior facilitismo do seu maneio, quer no campo, quer na tourada à corda, quer na arena durante a lide.

 

Por exemplo, geralmente os forcados aproveitam para pegar o toiro, quando o cornúpeto está no local oposto ao terreno da sua querença, facilitando assim a sua arrancada e maior facilidade na concretização da pega. Muitas pegas ocorrem com o toiro posicionado no local oposto à sua saída, pois a porta dos curros é considerada a querença natural deste animal, por factores descritos anteriormente. Os mesmos princípios também são utilizados pelos toureiros a pé ou a cavalo. Já na execução da sorte de varas, em que o objectivo é observar as condições de bravura das reses, o ideal será citar, ou chamar a rês brava a partir da sua querença (na maioria das vezes a porta dos curros), avaliando a facilidade do animal sair do sítio, que teoricamente, mais se defende. Detectar os terrenos das querenças do toiro durante uma lide, resulta importante para os toureiros desenvolverem as faenas e para qualquer espectador numa corrida de toiros, compreender o que é feito na arena (Silva, 2012).

 

Os animais que desenvolvem querenças evidentes, isto é, que são enquerençados, sentem-se mais cómodos para se defender nos terrenos que escolhem para permanecer com maior frequência, tornando-se reservados e observando cautelosamente o que os rodeia. De modo geral, os toiros enquerençados, investem de modo violento a partir do terreno da querença, apenas quando são instigados de muito perto. Estes comportamentos criam sérias dificuldades a todos aqueles que lidam com o toiro dentro da arena, incluso campinos ou pastores na recolha das reses. As investidas bruscas destes toiros, muitas vezes levantando os membros dianteiros pelo ar, são capazes de alcançar os corpos dos forcados e montadas de forma gravemente danosa, bem como, os capotes dos peões de brega, criando situações de apuro aos homens trajados de prata.

 


 

 

Baseado em:

·         Esteban, J. M. (2004). Breve Enciclopedia de Tauromaquia. LIBSA: 39.

·         Purroy , A. U. (2003). Comportamiento del toro de lidia EN EL CAMPO, EN EL RUEDO. Universidadd Publica de Navarra. 21-24.

·         Silva J. P. (2012). Terrenos e Querenças do Toiro Bravo. Toiros&Açores. In: http://toiroseacores.blogspot.pt/2012/10/terrenos-e-querencas-do-toiro-bravo.html. Consulta efectuada em 29 de Outubro de 2012.

 





 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Patrões da Corda





Texto e fotografia: Pedro Correia
 
Os pastores, os senhores da corda dos toiros. Homens, que, de forma habilidosa conduzem os toiros por extensos arraiais e que muitas vezes acabam por ser a segurança dos bravos. O pastor é protector do toiro e peça fundamental no brilhantismo das reses nas touradas à corda. Estes homens conhecedores de mão cheia do toiro bravo, de grande simplicidade e humildade, são os patrões da corda.


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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Esta vai para a Ganadaria de Ezequiel Rodrigues!


 
 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

No blog Toiros & Açores tentamos mostrar um pouco de tudo e de todos aqueles que constituem a festa brava, dando maior destaque à tauromaquia insular, mas sempre cientes da necessidade de ter uma visão alargada em redor das culturas taurinas de além-fronteiras.

 

Gostaríamos de colocar à disposição no blog mais fotografias de mais ganadarias, assim como, de outros locais da região, culturas taurinas de outras regiões portuguesas e outros países taurinos. Infelizmente de momento, não o temos conseguido fazer, muito por culpa da diversidade de imagens que o nosso espólio fotográfico apresenta actualmente e que vai crescendo dentro das oportunidades que vão surgindo.

 

 

Hoje recorremos ao banco de imagens que raramente se abre, para poder dedicar umas linhas a uma ganadaria emblemática da ilha Terceira, a de Ezequiel Rodrigues. Para tecermos linhas com uma fotografia de campo desta ganadaria tivemos que abrir os arquivos de 2006. Este arquivo quase sempre excluído, devido à falta de qualidade que as imagens apresentam, pois na época era utilizada uma máquina compacta da Olympus, emprestada pelo amigo Rodrigo Roçadas. Com este tipo de máquinas e a experiencia da época, pouco se poderia fazer.

 

Nesse ano que antecedeu o nascimento do blog Toiros & Açores, foi feita uma visita a diversos enjaulamentos dos toiros que iam ser corridos durante as corridas de toiros da Feira Taurina de S. João. Em dia de corrida do ferro ER, assistiu-se ao enjaulamento dos toiros da divisa verde e branca, nos currais do Pico da Bagacina. No interior do curral junto com as reses, o neto do ganadeiro e actual maioral da ganadaria, Rodrigo Rodrigues de aguilhada em punho, movia os toiros de forma tranquila, destemida e com tamanha perícia, como leões de circo bem domados se tratassem.

 

Em outros tempos, era o pai do Rodrigo, o Sr. José Manuel Rodrigues o maioral da ganadaria, que hoje desempenha as funções de representante desta criação de gado bravo, que atende pelo nome de ganadaria de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues nos dias que correm . Sem dúvida alguma, uma família terceirense com uma cultura ganadeira bem arreigada.

 

O fundador desta ganadaria, o Sr. Ezequiel Rodrigues, que faleceu a 17 de Outubro de 2002 com 64 anos de idade, era conhecido na afición terceirense pela sua humildade e por enfrentar a realidade com frontalidade. Foi seguramente um ganadeiro que escreveu linhas na tauromaquia terceirense, não apenas pela sua pessoa, mas por criar um toiro com características próprias, evidenciando a sua génese em ganadarias locais e nas origens Pinto Barreiros e Brito Paes.

 

Recordam-se aqueles toiros pequenos, cárdenos ou negros de pelagem, bem constituídos de carnes, sérios e com muito temperamento. Bravos exemplares que arrecadaram prémios sobre arenas e asfaltos açorianos, que posicionaram esta ganadaria no top da região. A nível internacional, inclusivé o conceituado escritor espanhol Filiberto Mira compara a figura de Ezequiel Rodrigues e os seus feitos ganadeiros nos Açores, ao famoso ganadeiro espanhol Victorino Martín por terras de Nuestros Hermanos. Enfim, uma ganadaria cheia de história, no seio de uma família que vive a criação do gado bravo de forma intensa.

 

Por fim, resta-nos dedicar esta fotografia à ganadaria de Herdeiros de Ezequiel Rodrigues, dizendo - “Esta vai para as gentes do ferro ER!”

 


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Na Latência do Inverno



Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Fez ontem um ano, que em pleno dia de natal, em fim de tarde escura e sombria foi-se até ao mato “matar o vício” de fotografar toiros. Em dia húmido e frio, enquanto os toiros davam passos lentos sobre a pastagem de erva curta, apenas o pormenor de uma hortência nos caminhos do centro da ilha Terceira, em estado de latência devido à sazonalidade, se aproveitou no meio de algumas fotografias com pouca história. Hoje em pleno campo bravo da ilha Terceira esta imagem é realidade.


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Embolar com Bolas



 


 
Texto e fotografia: Pedro Correia


A técnica de embolar um toiro está associada à colocação de bolas nas hastes dos toiros que podem ser de couro ou metal.



 

 
Nas touradas à corda as bolas metálicas são as mais utilizadas. Em praça, nas lides a cavalo este tipo de bola era utilizado no passado como se verifica em imagens de Neves (1992), no entanto, hoje é apena comum verem-se as de couro nas arenas portuguesas.

 

 
As bolas metálicas contêm uma rosca no seu interior, que facilita a sua colocação e aderência na ponta das hastes dos toiros em relação às bolas de couro. O uso frequente de bolas de metal provoca a formação de ranhuras nas pontas das hastes das reses, sendo habitual verem-se estas marcas em toiros corridos. Quanto às suas dimensões são variadas, de modo a adaptarem-se às diferentes larguras que as hastes dos toiros podem apresentar (Sousa, 2012).

 
Nas touradas à corda, raramente são utilizadas bolas de couro, já que a sua utilização só ocorre em casos excepcionais, quando as hastes não apresentam condições de serem aplicadas as bolas de metal.

 
 As bolas de metal, também designadas por espanholas, são muito utilizadas em outros bovinos mansos usados em trabalho, nomeadamente na raça mertolenga, na vertente de cabresto e raça de Ramo Grande, como animal de tracção. Este tipo de instrumento também pode ser utilizado em vacas bravas, como é observado nas vacadas da ganadaria portuguesa de Fernando Palha. A utilização deste instrumento em fêmeas de raça brava pode estar   associada à prevenção de lesões causadas por confrontos entre individuos da própria vacada como refere Montesinos (2002).

 
 Em vez de bola, também pode ser utilizada a palavra embola para identificar as protecções que são colocadas nas pontas das hastes dos bovinos, como refere Correia (2012). No entanto, o termo embola, que é habitualmente utilizado na nomenclatura tauromáquica, não é observado em dicionários, tais como, Machado et al. (1992) e DPLP (2012). Contudo, o termo embolar, que consiste na acção de colocar as bolas nas hastes das reses, existe nos dicionários citados anteriormente.

 

Baseado em:

·         Correia, P. (2012). Embola de Metal. Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2012/08/embola-de-metal.html. Consulta efectuada a 24 de Dezembro de 2012.

·         “Embolar”. (linha 27) In: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2012, http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=embolar. (Consultado em 24-12-2012).

·         Machado, J. P; Matos, J. G; Henriques, J. N; Salema, A; Araujo, C; Domingues, F. C; Vargas, G; Morbey, H; Machado, J; Pereira, J. C; De Araujo, L. M; De Melo, M. A. P; Oliveira, R; Machado, S. (1992). Dicionário Inciclopédico de Lingua Portuguesa. Selecções de Reader’s Digese. Volume I:127-466.

·         Montesinos, A. (2002). Prototipos Raciales del Toro de Lidia . Ed. Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación, Madrid.45-90 pp

·         Neves, F. (1992) O Toiro de Lide em Portugal. Edições Inapa 16-87 pp.

·         Sousa, M. M. (2012). Comunicação pessoal sobre a preparação dos toiros para a tourada à corda.

 

 


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Bandarilha Engalanada – Feliz Natal

 
 


Por: A equipa de Toiros &  Açores (Pedro Correia, Nuno Duarte, João Pedro Silva e André Cunha)
Fotografia: Pedro Correia
Uma bandarilha engalanada foi a escolhida como árvore de natal do blog Toiros & Açores. Desejamos a todos, um santo e feliz natal!



domingo, 23 de dezembro de 2012

O Vendedor Ambulante - “Ora meich! Meich!” Versus “Olha a queijadinha de Sintra”










Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Ora meich! Meich!”. Esta expressão é comum ouvir-se nas festas da ilha Terceira. O som que flui a partir das cordas vocais de alguns civis, que tentam ganhar uns trocos com a venda de guloseimas e aperitivos, que viajam de modo organizado, no interior de cestos de vimes artesanais, em bom português não é mais do que um “Ora mais! Mais!”. Contudo, a expressão prenunciada de forma rápida e com influências dos modos de falar e sotaque típicos da ilha, torna-se em “Ora meich! Meich!

 

A variedade de cores que os cestos dos vendedores ambulantes adquirem, é variada e por vezes passa despercebida nos eventos festivos, tais como festas de cidade, touradas de praça ou de corda. Por outro lado, uma tourada à corda, ou qualquer outra festividade que se preze, deixa de ter a mesma graça sem estes vendedores ambulantes, que também contribuem para o movimento socioeconómico que envolve as manifestações festivas locais.

 

Por entre terras de Portugal peninsular, onde a taurinidade afecta as sociedades de modo significativo, o “Ora Meich! Meich!” não é uma realidade, contudo, o vendedor ambulante também surge em festejos como as corridas de toiros. É comum, depois do espectador entrar nas praças de toiros portuguesas do continente, ouvir-se com frequência os vendedores de queijadas de sintra com a típica expressão “Olha a queijadinha de Sintra!”.


 

sábado, 22 de dezembro de 2012

A Mona e a Monilla

 
 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

A mona ou gregoriana e a monilla são protecções em ferro que protegem as pernas dos picadores. Na fotografia surge a parte superior de uma mona.

 

Normalmente é a face lateral direita do cavalo que recebe as investidas do toiro ou vacas bravas durante as tentas. A mona tem como finalidade proteger grande parte da perna direita do picador de eventuais derrotes das reses bravas.

 

Do lado esquerdo e com menores dimensões está a monilla, cuja sua finalidade primordial é de proteger o picador de possíveis choques com a trincheira, paredes, ou burladeros de praças de toiros ou tentadeiros.

 

 

Baseado em:

Esteban, J. M. (2004). Breve Enciclopedia de Tauromaquia. LIBSA.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Descanso de Cumes Bravos

 
 
Legenda e fotografia: Pedro Correia

Sobre a pastagem de verde intenso da Serra do Cume, na ganadaria de Duarte Pires, na ilha Terceira, um toiro bravo descansa atento à presença do fotógrafo.


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

88 - Um Bravo Raiado Desconhecido

 

 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Aproveitar conteúdos de fontes crediveis, e tentar clarificá-las, para facilitar a interpretação e compreensão de conceitos ao leitor comum que visita o blog Toiros & Açores, tem sido nos últimos tempos, uma estratégia dos elementos que escrevem nesta página. Contudo, achamos que não basta ficar pelos livros que “fulanos e beltranos” escreveram. Acreditamos que, também há que dar espaço à realidade local açoriana e compilar informação que é do conhecimento das gentes aficionadas destas ilhas. Para além disso, o comentário daqueles que nos visitam, acaba por ser o melhor feedback que podemos obter, principalmente quando no seio dessas mensagens dos nossos visitantes resultam ideias, para que possamos procurar e escrever sobre um determinado assunto. Assim foi no passado dia 26 de Novembro, após a publicação de uma fotografia de um toiro numa tourada à corda, nomeadamente do exemplar nº 88 da ganadaria de Rego Botelho, em que um visitante colocou algumas questões referentes à rês em questão.

 

Entendemos uma ideia pertinente, prometemos o trabalho, não tínhamos conhecimento para responder prontamente às questões, procuramos quem sabia sobre o enigma e aqui estão algumas respostas.

 

De acordo com os registos da ganadaria de Rego Botelho, facultados por De Rego Botelho, (2012), o toiro de pelagem raiada em verdugo e que ostenta no costado o nº 88, nasceu a 11 de Junho de 2008, sendo sua mãe a vaca nº 137 e o pai, o semental nº 42 apelidado por “Barriga Branca”.

 

Segundo a mesma fonte citada anteriormente, actualmente o toiro número 88, exemplar dotado de calma e serenidade durante o seu maneio no campo, conta com 6 touradas à cordas realizadas. Foi puro (corrido pela primeira vez) na Fonte do Bastardo em 2011, a segunda corda foi nas Lajes, a terceira na Vila Nova, quarta tourada na Vila de São Sebastião, a quinta na Fonte do Bastardo e o sexta festejo em São Carlos, onde a fotografia foi captada. Para além disso, De Rego Botelho (2012) ainda refere que o ganadeiro José Baldaya, entende que este exemplar da ganadaria Rego Botelho, além de ser um toiro muito bonito, também tem tido um bom desempenho e regular nas touradas à corda em que participou. De momento, o ganadeiro aguarda atenciosamente a prestação do toiro 88 durante a época das touradas à corda de 2013.

 

Não menos interessante, é uma fotografia do fotógrafo terceirense Edgar Vieira, em que se pode visualizar o exemplar 88 após a sua ferra, possivelmente quando tinha um ano de idade, abandonando o curral onde foi ferrado. Essa imagem pode ser visualizada na página de facebook da ganadaria Rego Botelho, através do link http://www.facebook.com/groups/348506925242808/?ref=ts&fref=ts#!/photo.php?fbid=441541505891963&set=o.348506925242808&type=3&theater.

 

Assim, respondemos às questões envoltas ao toiro nº 88 da ganadaria de Rego Botelho, agradecendo a colaboração da Engª Mariana de Rego Botelho, que cooperou da melhor forma na compilação da informação.

 

Por fim, resta-nos salientar que neste blog, não queremos ser tendenciosos! Aqui, sente-se prazer em aprender e partilhar ideias com tudo e todos (ganadeiros, capinhas, pastores, aficionados, jornalistas, etc.), que de forma directa ou indirectamente, estão conectados à cultura do toiro, e porque não dizer, também à cultura e vivências da sociedade, de um modo mais generalista. Sendo assim, convidamos todos os nossos visitantes a aderir ao espirito e participar.

 

 

 

Fonte:

 

De Rego Botelho, M. (2012). Comunicação pessoal sobre o toiro número 88 da ganadaria de Rego Botelho.

 

 

 


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Passos de Valente Português

 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Assim caminham os valentes portugueses, de alma amadora e de peito erguido frente ao toiro.


Barrete na cabeça, bater palmas e citar o toiro a larga distância. Entre um silêncio inquietante, sobre a arena da vida, ouve-se um "bora lá" de camaradagem, seguindo-se o "Eh Toiro Lindo'! Ai tá o toiro! 
 
É a coragem e valentia intrínseca do forcado amador, figura tipicamente portuguesa, cujo alguns defendem, ser o último romântico da festa.


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Maioral - Pilar da Criação do Toiro Bravo




 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

De acordo com Almeida (2002) Maioral é um termo que pode ser empregado a quem lidera essencialmente trabalhos na agricultura. Sendo assim, a figura do Maioral, segundo Almeida (2002) e Consejería de Agricultura, Desarrollo Rural, Medio Ambiente y Energía (C.A.D.R.M.A.E.) et al. (2012) está associada a diversos tipos de produção agro-pecuária (bovinos de carne e leite, equinos, ovinos, suínos, etc.), contudo, este termo é em grande medida aplicado às ganadarias de reses de lide.

 

Em termos gerais, o Maioral é um gestor do trabalho de campo de explorações agro-pecuárias, no entanto, este termo é utilizado frequentemente nas ganadarias bravas. Na consulta dos dados das ganadarias bravas em ARCTTC (2006), Lucas (2006) e UCTL (2011), verifica-se a identificação do Maioral de cada identidade criadora de reses bravas.

 

A figura do Maioral, ganha maior impacto em ganadarias de grande dimensão e que apresentam mais unidades de homens de trabalho (C.A.D.R.M.A.E., et al., 2012). Uma ganadaria pode possuir mais que um Maioral, tendo os diversos Maiorais, a responsabilidade de gerir cada tipo de produção intrínseca à ganadaria, ou empresa agro-pecuária onde a ganadaria esteja inserida. Isto é, podem existir Maiorais apenas responsáveis pela criação dos novilhos, vacadas e outros grupos de animais associados à ganadaria brava em si e, ou podem estar devidos por explorações paralelas à ganadaria, como o sobreiros, vinha, azeite, bovinos de carne ou leite, equinos, ovinos, caprinos suínos, etc.

 

Segundo C.A.D.R.M.A.E. et al. ( 2012), existem figuras paralelas ao Maioral em outros países taurinos, como por exemplo nos países ibero- americanos são denominados de “caporal”, sobretudo no México, embora a função não seja exactamente a mesma.

O mesmo ocorre na região da Camarga em França com os Guardiens, que geralmente usam de auxílio os cavalos russos, típicos desta região francesa.

 

De acordo com C.A.D.R.M.A.E. et al. ( 2012) o Maioral, apesar de ser o chefe da equipa, teve que assumir novas competências e funções que complementam o seu perfil laboral, e que contribuem para a modernização e o melhoramento do próprio sector tanto em Portugal como em Espanha.

 

Nos Açores, devido à pequena dimensão da maioria das ganadarias e à realidade dos mercados do toiro bravo nesta região, o Maioral é uma figura que muitas vezes, se mistura com a do ganadeiro. Em alguns casos o Maioral destas ganadarias, acaba por ser próprio ganadeiro, ou membros da família, nomeadamente os filhos do criador de reses bravas. Nomes como, José Rodrigues em Herdeiros de Ezequiel Rodrigues, João Gaspar na ganadaria de “João Quinteiro”, José de Sousa de Humberto Filipe, Paulo Dias na de Francisco Sousa, ou António Ferreira na Casa Agrícola José Albino Fernandes, são exemplos de maiorais que têm laços familiares com a ganadaria. No entanto, surgem outros nomes no seio dos Maiorais, que pouco tem a ver com os laços familiares dos proprietários das ganadarias bravas insulares, tais como “José da Lata” na antiga ganadaria de Castro Parreira, “Chico André”, José "Faveira" em Rego Botelho, “Martins” na Casa Agrícola José Albino Fernandes, Gabriel Ourique, Carlos Narciso Silva e João Caldeira na ganadaria de Eliseu Gomes, ou Hélio Silveira na ganadaria Jorgense de Álvaro Amarante (Ortins, 1997; Ortins, 1998; ARCTTC, 2006 e Lucas, 2006).

 

Maioral, é também o tema central de uma monografia publicada no ano de 2012, que resulta de uma compilação efectuada pelo Governo da Extremadura - Consejería de Agricultura, Desarrollo Rural, Medio Ambiente y Energía em Espanha. O documento reúne informação colectada em Espanha e Portugal por ganadeiros, toureiros, maiorais e técnicos de renome no mundo da criação do toiro bravo. A obra El Mayoral o Maioral en las ganaderías de lidia de Extremadura y Portugal - FUNCIONES E IMPORTANCIA reúne em 86 páginas de informação na língua espanhola e portuguesa, sobre a figura do Maioral, bem como, todas as suas funções e competências. Um documento que pode ser descarregado de forma gratuita através do link da internet http://www.toroslidia.com/wp-content/uploads/2011/03/Monografia-El-Mayoral-o-Maioral-en-las-ganader%C3%ADas-de-lidia-de-Extremadura-y-Portugal.pdf, que realça a importância fundamental destes Homens e que começa a reunir as técnicas do Homem do campo, muitas vezes aprendidas de geração em geração de modo empírico.

 

 

 

 

Baseado em:

 

 

·         Almeida, M. A. (2002). “Maioral”, Conceição Andrade Martins, Nuno Gonçalo Monteiro (orgs.), A Agricultura: Dicionário das Ocupações, Nuno Luís Madureira (coord.), História do Trabalho e das Ocupações, vol. III, Oeiras, Celta Editora, pp. 216-218. ISBN: 972-774-133-9.

·         ARCTTC. (2006). Ganadarias. Disponível em: http://www.toiroscorda.com/antigo/index.php?op=ganadarias. Consulta efectuada a 11 de Dezembro de 2012.

·         Consejería de Agricultura, Desarrollo Rural, Medio Ambiente y Energía; Borja Domecq; Fernández J. S; Marrón J. M. L; Ferrera, A; Castro J. L; Bazaga, J; Martín, V. G; Sancho, G; Presumido, J; Izquierdo, L; Núñez, S. (2012). El Mayoral o Maioral en las ganaderías de lidia de Extremadura y Portugal - FUNCIONES E IMPORTANCIA. Governo da Extremadura - Consejería de Agricultura, Desarrollo Rural, Medio Ambiente y Energía.

·         Ortins, I. (1997). Ganadarias Terceirenses - Ganadaria da Casa Agricola José Albino. Revista Festa na Ilha. 1:21-23.

·         Ortins, I. (1998). Ganadarias Terceirenses – Eliseu Gomes. Revista Festa na Ilha nº2:21-22.

·         Lucas, V. (2006). Ganadarias Portuguesas. Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide.