Texto: André Cunha
Fotografia: Pedro Correia
Por entre pontos e
vírgulas, descrições e metáforas, quiçá pelo meio uns palavrões, dou-vos a
conhecer exímios "doutores" do toiro bravo. Ei-los senhoras e
senhores, são homens da corda, os valentes pastores.
No dia-a-dia são
agricultores, têm as suas lavouras, uns atiram redes ao mar, outros
carpinteiros... Mas em dia de tourada trocam a "farda" que lhes dá
ganha-pão e passeiam-se arraial abaixo, desfilam orgulhosos pelo meio do povo,
mesmo sem passerelle ou tapete encarnado. Para os garotos são heróis, mais do
que "Homens Aranha" que lançam teias, "Hulks"
que ficam verdes ou um "Dragon Ball" que lança bolas de
fogo... Os homens da corda seguram bichos bravos, que guindam paredes, correm
que se fartam, perseguem quem lhes atiça. Os homens da corda lidam com toiros.
Pelas ruas e terreiros, eles sobressaem trajando calça cinzenta de cotim,
chapéu preto na cabeça e debaixo do braço saca de pano, onde a camisola branca,
que ostenta no peito o ferro da ganadaria, aguarda até ao estalar do primeiro
foguete. Nos pés, amontoam quilómetros infinitos e calçam sapatilhas, outrora
sapatos de lona artesanais, pois também não havia dinheiro pra mais.
A companha é no mínimo de
sete pastores, sejam velhos ou novos, destemidos, geralmente com pé ligeiro. As
mãos grossas e gretadas não escondem o árduo maneio da corda, ora puxa pra cá,
ora puxa pra lá. Hoje um dedo esfarrapado, amanhã uma unha negra.
"Suíças" exuberantes e bigodes farfalhudos escondem rugas conselheiras
da idade. Convictos que a boa lide do toiro também depende de quem os
"conduz", trabalham em equipa, remam todos para o mesmo lado.
Amarram, embolam e comandam um animal de 450 kg a palmos de distância. Nas
brincadeiras de criança são imunes, na realidade também apanham lanha.
Pela boca do povo, levam
bitaites de puros treinadores de bancada: "- Cort'à corda!".
"- Deixa pegá!". "- Nã deixes pegá no Ti Jaquim!".
"- Paguei pa vê o toiro na outra ponta!". "- Este nem
pra bifes!". "Ah toleirães, deixarem saltá o biche!"...
Já alguém dizia, "haja paciência para tão pouca inteligência".
Contudo, a camisola branca fica castanha, ensopada de suor, quantas vezes
calças rasgadas, corpo dolorido e canelas negras. Dão o seu melhor sem esperar
algo em troca.
Fora de cena e ofuscada de
muita gente, a labuta é diária e constante. De Inverno as reses bravas
repousam, ao contrário do ganadeiro e pastores que não pousam em ramo verde,
desde toques e retoques em portais, dar de comer, tratar da sanidade animal,
etc... etc... Ao qual os pastores respondem: presente!
Não se tiram cursos nas Capelas nem recebem equivalências. Aceita-se
humildade, vontade, dedicação, respeito e gosto pelo toiro bravo, afición,
saber ouvir velhos sábios e gente com experiência. Um bem-haja a estas pessoas,
ícones da tauromaquia insular, os pastores!
Nenhum comentário:
Postar um comentário