sábado, 8 de dezembro de 2012

Recordar o Homem, Luís Henrique Silva

 
 
 
Texto: André Cunha
Fotografia: Pedro Correia
 
            Açores, ilhas de bruma e de pedra morena, caracterizadas pelo seu basalto negro, berço de uma afición desmedida e de um culto aguerrido ao toiro bravo. No banco dos réus dou a Terceira como “culpada” deste vírus que emanou pouco a pouco para as companheiras e vizinhas ilhas do atlântico. Esta culpa não dá cadeia, pelo contrário, deixa alegre e contentes grande parte do povo açoriano, o que demonstra o gosto e interesse pela festa brava.
 
            De entre essas dezenas de milhares de almas, hoje destaco uma delas e que infelizmente já partiu. O que muitas vezes acontece é não reconhecer o trabalho e mérito dessas individualidades em vida. Contudo, e seguindo o ditado de “mais vale tarde do que nunca”, Luís Henrique Silva merece um Olé de todos nós.
 
            Sem entrar muito em esquemas biográficos, até porque não foi efectuado nenhum trabalho de pesquisa, a ideia é de transparecer o quão genuíno era Luís Henrique, o quanto gostava da sua ilha Graciosa, e sobretudo o bom comunicador e um assumido amante do campo, cavalos e toiros.
 
            Enfermeiro de profissão, exerceu cargos políticos, presidente e membro de diversas entidades e associações. Porem, a vida não era passada de fato e gravata, indumentária trocada vezes sem conta por umas botas de cano, mãos e roupa suja, rabo em cima de cavalos e carrinha de caixa aberta cheia de lameiro. Julgo que a humildade tem destas coisas, fazia o que gostava sem vergonha e sem esconder a sua posição. O bom dia saía para o pescador, para o padeiro ou lavrador, demonstrando sempre grande respeito desde os novos até aos mais velhos. Nunca me disse um “weipe!” ou chamou de “pequeno”, mesmo eu tendo a idade de ser seu filho. Com bases em variadas áreas, falava de tudo um pouco e com conhecimento. De entre tais áreas sublinho a tauromaquia, conhecedor nato da festa, do toiro e de toda a sua envolvente. É caso para se dizer, tinha afición que era proporcional ao seu tamanho, homem de grande porte.
 
            Ao lado de senhores como Manuel Isidro Luz, João Manuel Picanço e João Mendonça, Luís Henrique Silva encabeçava no role dos elementos das comissões organizadoras da Feira Taurina da Ilha Graciosa. Com o contributo de todos os aficionados que referi, passo a passo a feira foi alcançando um patamar de respeito, pelos cartéis bem montados que deram nova dinâmica, vivacidade e reconhecimento ao certame que se realiza em pleno mês de Agosto, na bonita praça do Monte da Ajuda.
 
            “Sr. André como é que está? O que é que achas daquele cavaleiro para cá vir? André, estou com dúvidas entre este e este, o que é que pensas? Não vais às Sanjoaninas este ano? Vamos ver uma corrida a São Jorge?” Muitas conversas destas entre um homem na casa dos quarenta e eu, um rapaz a entrar nos vinte. Motivo, o prazer de partilharmos afición. Dele tenho as melhores recordações.
 
            A doença roubou-lhe a alegria de viver, deixou-nos em Agosto de 2011, com uns “míseros” 49 anos de idade. Dias antes havia sido homenageado, e representado pelas duas filhas, recebeu o aplauso de praça cheia. Enhorabuena!
 
Marília e Luísa, esta vai pelo vosso pai!
 

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