quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Toiro em Portugal I – Inicio e a Casta Portuguesa





Texto e fotografia: Pedro Correia


Segundo Cossío (1988); Neves (1992) e Lucas (2006), existe durante o século XIX uma variedade de toiro bravo originário de Portugal. No entanto, Neves (1992), afirma que o toiro de lide em Portugal, não apresenta bibliografia abundante, nem está estudado com suficiente profundidade. Cossío (1988), refere a existência de poucas ganadarias puramente autóctones portuguesas, como por exemplo a de Rafael José da Cunha.


À semelhança dos festejos taurinos da nobreza que ocorriam em Espanha, o mesmo sucedia em Portugal. É com o gado morucho das Reais Manadas, propriedade da Casa Real Portuguesa, desde os tempos do rei D. João IV, pastoreando nas terras do Infantado, que englobavam, entre muitas outras, as do Senhorio de Pancas, de Samora Correia a Alcochete, que nasce a vontade de criar toiros com condições de lide (Neves, 1992). Segundo o mesmo autor, até a este período não definem os bovinos como especificamente criados para a lide. Tal importância começa a ter substancial interesse a partir do momento em que as ganadarias portuguesas foram cruzadas com toiros espanhóis. Este procedimento tem inícios através da importação de gado proveniente da Casta Vasquenha (50 vacas e 2 sementais), pertença na época ao Rei de Espanha D. Fernando VII, pela rainha D. Carlota Joaquina, mãe de D. Miguel I.


Segundo Neves (1992) os animais provenientes de Espanha são acomodados separadamente das Reais Manadas, em Salvaterra de Magos, no ano de 1830, contudo após as guerras entre liberais e absolutistas, D. Pedro distribui a ganadaria de casta de D. Miguel pelos seus apaniguados, Marquês de Belas e Comendador Dâmaso Xavier dos Santos, o qual seguidamente alienou vacas da mesma casta ao Marquês de Ponte de Lima e a Francisco de Paula Leite, à Casa Cadaval e ao Dr. Rafael José da Cunha, que por sua vez vende vacas ao Barão da Junqueira.


Segundo Almeida et al. (1953a) e Neves (1992), houve um aporte indiscriminado de produtos cruzados entre a Casta Vasquenha e gado da terra, entre Manuel da Silveira Brito (Marquês de Ponte de Lima) e diversos criadores, entre os quais o Conde de Sobral, Barão de Salvaterra de Magos, e Estêvão Augusto Oliveira, tendo este adquirido à Casa Real a Herdade de Pancas, do património do Infantado, ao Marquês de Vagos, a Máximo da Silva Falcão, a João Veloso Horta, sendo porem certo que esta dispersão do sangue “vasquenho”, veio purificar-se em algumas vacas claramente moruchas. Define Neves (1992) que é o toiro de lide criado em Portugal após o fim das Guerras Liberais (1834) cruzamento entre a casta do gado confiscado a D. Miguel de Bragança e o toiro da terra, o qual definiu um tipo de toiro com caracteres fenotípicos bem marcados que pensamos ser lícito de qualificar de “toiro português” (Casta Portuguesa), pois já se apresenta qualidades de bravura bastante acentuadas, o que não acontecia com o antigo toiro da terra cruzado com os moruchos da Galiza e norte do Pais.


A evolução do toureio e a importação de ganadarias completas para Portugal vai sendo maior e a designada casta portuguesa vai sendo eliminada (Neves, 1992 e Castro, 2012).


Segundo Lucas, (2006) hoje em dia apenas reside em Portugal um pequeno núcleo de animais de Casta Portuguesa, nomeadamente nas ganadarias de Vaz Monteiro e Irmãos Dias, residindo algo na de Vale do Sorraia. No entanto, o mesmo autor refere vários encastes derivados da casta portuguesa, nomeadamente o de Vaz Monteiro (ganadaria Vaz Monteiro), Norberto Pedroso (ganadaria Irmãos Dias), encaste de Lafões, J. Fagundes, Castro Parreira e Dinis Fernandes, sendo estes dois últimos representados por núcleos de animais presentes em ganadarias açorianas.



Texto extraído de:

Correia, Pedro Bettencourt Cardoso – "Posicionamento genético do gado bravo da ilha Terceira em relação à Raça Brava de Lide". Angra do Heroísmo : Universidade dos Açores. 2012. IX, 85 f.. Dissertação de Mestrado.


Baseado em:

·         Almeida, J. D; Perez, R; Nunes, L; Baptista, F. (1953). História da Tauromaquia Técnica e Evolução Artística do Toureio. Artis, Lisboa. I volume 17-32.

·   Castro, E. L. F. (2012). Ganadaria brava fundada por António Joaquim Correia de Castro, Meu Pai, meu maior amigo… Novo Burladero, nº278:30-31.

·    Cossío, J. M. (1988). EL COSSIO: LOS TOROS, Tratado Técnico e Histórico. Tomo I. Espasa-Calpe. X Edição.

·   Lucas, V. (2006) – Ganadarias Portuguesas 2006. Ed. Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, Porto Alto, 30-150 pp.

·      Morais, A. M. (1992). A Praça de Toiros de Lisboa – Campo Pequeno. Fnac, 500-700 pp.

·         Neves, F. (1992) O Toiro de Lide em Portugal. Edições Inapa 16-87 pp.


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