Texto: André Cunha
Fotografia: Pedro Correia
Não é tempo de eleições e
ninguém anda de porta em porta a acenar, a espalhar sorrisos, ou a oferecer
canetas. Nestas linhas, a arte política para cá não é chamada. Assim, consolo
uma parcela de leitores que já não pode ouvir falar em orçamentos de estado,
mercados, crise e corrupção. Acredito que não seja fácil mas definitivamente
não se misturam alhos com bugalhos.
Venham socialistas e democratas,
sejam populares sejam comunistas, amigos da terra, do mar e do ar. Até pode vir
sua santidade o Papa, mas o voto da gente que vos apresento só tem um destino,
Toiros e Toiradas!
Estas
gentes são aficionados devotos, fiéis militantes que acarretam uma doença que
nem nos manuscritos mais ancestrais vem descrita. Pensa-se que seja viral, tal
a forma como se transmite, a maneira como ataca e se entranha no sangue. Uma
vez infectado, o individuo apresenta como sintoma a cegueira em relação às
outras casas de bravo. Fazendo uma comparação ao campo futebolístico, são
adeptos das claques organizadas, muito mais pacíficos mas com todo o amor e
paixão ao seu clube. No caso, à sua ganadaria. Eis que surge o termo “partido”,
palavra utilizada no vasto dicionário terceirense para substituir ganadaria.
Como identificar estes
indivíduos em quatro lições?
Velhotes com boné de rede,
alusivo a produções leiteiras, oferta de amigos radicados na Califórnia. Da
freguesia são os mais castiços, fazem as suas torcidas de tabaco, preparam cigarrilhas,
folha de milho atrás da orelha.
Muitos deles foram ajudantes
no passado do “partido” que veneram. Botas de cano como calçado frequente,
conduzem carrinhas de caixa aberta, desgastadas pelo trabalho do campo. Passam
dias no mato, vislumbram reses bravas dia sim, dia não, e sem cansar. Conhecem
muitas histórias, verdadeiras enciclopédias vivas. Só pelo andar conhecem
aquele bezerro, e como velhas mexeriqueiras de janela, sabem que é filho da
vaca Galharda, do toiro Rabão e que ainda vem a ser neto do 79, toiro de fama
das touradas á corda.
São assíduos na lide semanal
do gado e marcam presença nas ferras. Juntam-se à mesa para meter uma miga de
queijo à boca, traçado de pão de milho e uns chicharros fritos dão conta do
recado. Garrafão de vinho, três dedos de conversa e está feita a festa.
Nos arraiais exclamam vezes
sem conta: “-Isto é que é sangue!”. Mas se o toiro for de outro “partido”: “- Eh
home, por amor de Dês! O gueixo puro do meu partido noutro dia na Agualva foi
bem melhor!”.
Ora
bem, sem maldade e sem preconceitos (até porque conheço muita gente assim e
louvo a sua afición aguerrida) os alicerces estão lançados, mas não se baseiem
apenas nestas características, porque esta crença passa de geração em geração,
e são muitos os jovens com estas “filosofias”. É importante que continue esta
rivalidade saudável.
Quem está por dentro do
assunto, sabe que é mesmo assim, defendem a ferro e fogo a sua casa de bravo do
coração. Muitas vezes, as suas segundas casas. “- Ti Jacinto, sou teu amigo,
mas o meu partido é o melhor!”
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