segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Riscados nos Açores





Texto e fotografia: Pedro Correia


As pelagens que aparecem no gado bravo dos Açores não são peculiares por serem casuais na raça Brava de Lide. No entanto, há uma tendência a predominarem algumas colorações. O negro, mais comum na raça brava pelo já comentado em Correia (2012a) e Correia (2012b), o salgado ou “saro” por Correia (2013) e o raiado, riscado, ou chorreado. Esta ultima coloração muito atrativa, para o publico em geral, tem uma razão de existência nas reses bravas dos Açores, assim como qualquer outra cor.


As origens das características do gado bravo açoriano, tais como as cores das pelagens, baseiam-se nas raças de bovinos introduzidas nas ilhas, bem como, os encastes que ganadeiros foram adicionando às camadas de bravo açorianas, de modo mais ou menos consciente, e das características individuais de cada reprodutor.


Em relação à origem da pelagem riscada, ou raiada nas ganadarias açorianas, poderíamos refletir sobre três hipóteses:

  • ·         A primeira hipótese pode assentar na influência de raças de bovinos de origem ibérica (introduzidos na ilha desde a colonização) e europeia (introduzidos na ilha desde o século XIX). Beja-Pereira (1997) numa investigação relativamente às origens da raça Ramo Grande (raça autóctone da ilha Terceira com origens no gado ibérico) refere que a pelagem riscada, por vezes observada em exemplares desta raça, deve-se a cruzamentos passados com indivíduos de raça Normandesa, já que esta coloração é característica destes bovinos de origem francesa.
  • ·         A segunda, muito conhecida no seio dos mais conhecedores das histórias das ganadarias bravas açorianas. Esta hipótese está apoiada na introdução de um semental da conceituada ganadaria portuguesa de Palha, possivelmente de encaste Gamero Civico de Pinto Barreiros como descrevem Lucas (2006) e Mendonça (2011). Esta introdução terá ocorrido nos inícios da década de 1960, já que de acordo com registos genealógicos de Parreira (1971) foi no ano de 1961, que o semental referido anteriormente padreou na já extinta e prestigiada ganadaria terceirense de Castro Parreira, que influenciou de forma significativa a formação das atuais ganadarias bravas açorianas.
  • ·         A terceira suposição, está inerente à grande aporte do encaste Gamero Civico em Portugal. Primeiro para a ganadaria portuguesa de Pinto Barreiros, depois em outras ganadarias lusas formadas a partir de ganadarias espanholas do mesmo encaste (Gamero Cívico), nomeadamente a de Guardiola Soto, nas quais destacamos Murteira Grave e Ortigão Costa (López del, Ramo 2002 e Lucas, 2006). Em 1995, a conceituada ganadaria de Ortigão Costa, vendeu vacas e sementais à da ilha Terceira, de José Albino Fernandes (Lucas, 2006). Os animais que chegaram à ganadaria terceirense, serviram para constituir um núcleo de reses com a finalidade de serem lidadas em praça. Nessa base genética a pelagem riscada ou raiada surge com alguma facilidade, dai ser frequente, a aparição de toiros raiados na ganadaria Casa Agrícola José Albino Fernandes, nomeadamente em corridas de toiros.


Em síntese: Embora tenham sido descritas três hipóteses, há que levar que o mais correto é ter ocorrido um pouco de ambas. Derivado ao referido por Bruges (1915); Bruges (1997); Costa (1999); Bruges (2000); Costa (2000) e Silva (2011), o cruzamento de gado catrina ou mestiços de várias raças mansas, com toiros bravos era, ou deveria ser frequentemente nos primórdios das ganadarias bravas terceirenses. No entanto, a aparição desta pelagem também pode-se dever às fortes influencias do encaste Gamero Cívico em Portugal, que teve as suas repercussões na ilha Terceira, Por um lado à forte influencia que a ganadaria Castro Parreira sobre na génese das atuais ganadarias bravas açorianas, por outro, importações de reses bravas mais recentes, como a de Ortigão Costa para a da Casa Agrícola José Albino Fernandes.

Bibliografia:
  • Beja Pereira, A. G. (1997). Caracterização Genética da Raça Bovina Autóctone Ramo Grande Através do Uso de Micro-satélites. Universidade dos Açores - Departamento Ciências Agrarias. Angra do Heroísmo. Relatório de Estagio para a obtenção de Licenciatura em Engenharia Zootécnica.
  •  Bruges, J. (1915). A Ilha Terceira. Notas sobre a sua Agricultura, Gados e Industrias Anexas. Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, 25-99.
  • ·         Bruges, A. (1997). O TOIRO NA ILHA TERCEIRA – BREVE NOTA SOBRE A SUA APARIÇAO E EVOLUÇAO. Festa na Ilha nº 1 p. 6-7, 48pp.
  • ·         Bruges, A. (2000). O TOIRO DA ILHA. Festa na Ilha nº 4 p. 4-6, 60pp.
  • ·         Costa, G. (1999). A Ganadaria Brava na Ilha Terceira. Revista Festa na Ilha nº 3, 18-22 pp.
  • ·         Costa, G. (2000). “CRIADORES” DE GADO BRAVO – ALVORES DO SÉCULO XX. Festa na Ilha nº 4 p. 18-20, 60pp. 
  •            Correia, P. (2013). O Legado da Salgada. Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2013/01/o-legado-na-salgada.html. Consulta efetuada em 4 de Fevereiro de 2013.
  • ·         Correia, P. (2012a). Porque é que a maioria dos toiros bravos tem a pelagem negra? Disponivel em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2012/10/porque-e-que-maioria-dos-toiros-bravos.html. Consulta efetuada em 4 de Fevereiro de 2013.
  • ·         Correia, P. (2012b) Em Redor do Toiro Negro – Em Redor do Toiro de Vistahermosa. Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2012/10/em-redor-do-toiro-negro-em-redor-do.html. Consulta efetuada a 4 de Fevereiro de 2013.
  • ·         López del Ramo, J. (2002). Las Claves del Toro. Espassa Calpe. 208-227 pp.
  • ·         Lucas, V. (2006) – Ganadarias Portuguesas 2006. Ed. Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, Porto Alto, 30-150 pp.
  • ·         Mendonça, J. F. (2011). Representante da ganadaria Palha. Comunicação pessoal.
  • ·         Parreira, C. (1971). Livro Genealógico da Ganadaria Castro Parreira.34-76 pp.
  • ·         Silva, I. (2011). Ganadaria da Ilha Terceira – Casa Agricola José Albino Fernandes. 1ª Edição. 313 pp.

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