quarta-feira, 6 de março de 2013

O Cabresto






Texto: João Pedro Silva
Fotografia: Pedro Correia


Todos os intervenientes têm o seu lugar e a sua importância na festa, uns com relevância mais acentuada, outros com papel mais secundário, mas de importância elevada, não só na euforia do redondel, mas na sombra de tudo o que ao toiro bravo e ao seu maneio diz respeito.


Falo-vos do cabresto, ou jogo de cabrestos. Peões fundamentais nas jogadas arriscadas e sempre complicadas de manejar o toiro bravo.


Em Portugal quando falamos de cabrestos associamos sempre ou quase sempre à raça mertolenga, raça esta por afinidade a eleita por todos os ganadeiros de bravo para o maneio da sua ganadaria.


Para Bernardo Lima (1873) citado por Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos (ACBM) (2011), o mertolengo não é mais que um “alentejano” pequeno, bem adaptado aos cerros de magras pastagens e duros carregos. Rijo para carrear e lavrar nas encostas e serras e produzindo o melhor boi de cabresto. Existindo no Baixo Alentejo, nas terras de Mértola, Alcoutim e Martinlongo.


Como boi de cabresto foi levado para o trato do gado de lide na região do Ribatejo. Era um Mertolengo unicolor, com cor mais retinta, sem malhas e de corna espiralada.


Ainda para T. Frazão (1961) por ACBM (2011), com o franqueamento da fronteira ao gado dos dois países ibéricos, por cerca de 1900, vieram entre eles, bovinos malhados que, já no país vizinho, tinham fama pela rusticidade e boa unha para a campanha do gado bravo.


Para além do maneio dentro das propriedades ganadeiras, os cabrestos são utilizados na transumância de gado bravo e em tempos de outrora quando as herdades tinham poucas vedações e o maneio era feito acompanhando por cavalos e cabrestos, os desmames eram feitos a campo com os cavalos e cabrestos.


Normalmente estes animais são acolhidos nas ganadarias pouco tempo depois do desmame, sendo castrados e ensinados desde muito novos no contacto muito próximo com os cabrestos mais velhos, com o maioral (à sua voz, indicações sonoras, gestuais, etc), com o seu cavalo, e desde o início dessa aprendizagem são habituados aos trajectos dos diversos grupos de animais a trabalhar (vacas, novilhas, novilhos, toiros), às portas, aos currais, às mangas, etc.


As tarefas camperas no gado bravo são sempre delicadas devido ao temperamento muito sensível e agressivo desta raça. Por isso, o jogo de cabrestos serve de guia ao trabalho destinado pelos campinos e maiorais.


O gado a campo gosta de andar em manada e sente-se mais protegidos em grupo. Por isso é mais fácil levar um grupo de reses bravas do campo ao curral quando acompanhados dos seus semelhantes. Os cabrestos sabem quando saem ao campo qual a sua função. Não é mais que trazer os outros animais aos currais (apartar toiros para corridas, desmames de bezerros, ferras, tentaderos, saneamentos, etc), e por vezes mais que uma vez, o que no gado bravo, raça muito temperamental, desconfiada e de memória muito viva seria impossível só com a presença do homem.


Nas praças de toiros portuguesas, como não é permitido a morte do toiro na arena, os toiros têm de ser recolhidos aos currais, e é um momento sempre agradável de ver, a recolha dos toiros por um jogo de cabrestos, (normalmente 7/8).


Em Espanha os toiros só são recolhidos por alguma anomalia física do animal. Outro aspecto é como é feito o reconhecimento veterinário dos toiros num grande parque no interior da praça, os toiros ao encontrarem-se em lugar estranho muitas vezes começam por investir contra portas, paredes, etc, e até a brigar com os irmãos de camada, podendo causar baixas inesperadas. Estando um jogo de cabrestos nesse mesmo parque os toiros tendem a acalmar-se e tudo decorre normalmente.


E como obra de arte a apreciar, é ver o maioral da praça de toiros de Las Ventas em Madrid a recolher um toiro inutilizado pelo maioral da praça de seu nome Florito. Como podem constatar neste vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=KsdsmjaMy-Y.



Bibliografia:


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