Texto:
João Pedro Silva
Fotografia:
Pedro Correia
Todos
os intervenientes têm o seu lugar e a sua importância na festa, uns com
relevância mais acentuada, outros com papel mais secundário, mas de importância
elevada, não só na euforia do redondel, mas na sombra de tudo o que ao toiro
bravo e ao seu maneio diz respeito.
Falo-vos
do cabresto, ou jogo de cabrestos. Peões fundamentais nas jogadas arriscadas e
sempre complicadas de manejar o toiro bravo.
Em
Portugal quando falamos de cabrestos associamos sempre ou quase sempre à raça
mertolenga, raça esta por afinidade a eleita por todos os ganadeiros de bravo
para o maneio da sua ganadaria.
Para
Bernardo Lima (1873) citado por Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos
(ACBM) (2011), o mertolengo não é mais que um “alentejano” pequeno, bem
adaptado aos cerros de magras pastagens e duros carregos. Rijo para carrear e lavrar
nas encostas e serras e produzindo o melhor boi de cabresto. Existindo no Baixo
Alentejo, nas terras de Mértola, Alcoutim e Martinlongo.
Como
boi de cabresto foi levado para o trato do gado de lide na região do Ribatejo.
Era um Mertolengo unicolor, com cor mais retinta, sem malhas e de corna
espiralada.
Ainda
para T. Frazão (1961) por ACBM (2011), com o franqueamento da fronteira ao gado
dos dois países ibéricos, por cerca de 1900, vieram entre eles, bovinos
malhados que, já no país vizinho, tinham fama pela rusticidade e boa unha para
a campanha do gado bravo.
Para
além do maneio dentro das propriedades ganadeiras, os cabrestos são utilizados
na transumância de gado bravo e em tempos de outrora quando as herdades tinham
poucas vedações e o maneio era feito acompanhando por cavalos e cabrestos, os
desmames eram feitos a campo com os cavalos e cabrestos.
Normalmente
estes animais são acolhidos nas ganadarias pouco tempo depois do desmame, sendo
castrados e ensinados desde muito novos no contacto muito próximo com os
cabrestos mais velhos, com o maioral (à sua voz, indicações sonoras, gestuais,
etc), com o seu cavalo, e desde o início dessa aprendizagem são habituados aos
trajectos dos diversos grupos de animais a trabalhar (vacas, novilhas,
novilhos, toiros), às portas, aos currais, às mangas, etc.
As
tarefas camperas no gado bravo são sempre delicadas devido ao temperamento muito
sensível e agressivo desta raça. Por isso, o jogo de cabrestos serve de guia ao
trabalho destinado pelos campinos e maiorais.
O
gado a campo gosta de andar em manada e sente-se mais protegidos em grupo. Por
isso é mais fácil levar um grupo de reses bravas do campo ao curral quando
acompanhados dos seus semelhantes. Os cabrestos sabem quando saem ao campo qual
a sua função. Não é mais que trazer os outros animais aos currais (apartar
toiros para corridas, desmames de bezerros, ferras, tentaderos, saneamentos,
etc), e por vezes mais que uma vez, o que no gado bravo, raça muito
temperamental, desconfiada e de memória muito viva seria impossível só com a
presença do homem.
Nas
praças de toiros portuguesas, como não é permitido a morte do toiro na arena,
os toiros têm de ser recolhidos aos currais, e é um momento sempre agradável de
ver, a recolha dos toiros por um jogo de cabrestos, (normalmente 7/8).
Em
Espanha os toiros só são recolhidos por alguma anomalia física do animal. Outro
aspecto é como é feito o reconhecimento veterinário dos toiros num grande
parque no interior da praça, os toiros ao encontrarem-se em lugar estranho muitas
vezes começam por investir contra portas, paredes, etc, e até a brigar com os
irmãos de camada, podendo causar baixas inesperadas. Estando um jogo de
cabrestos nesse mesmo parque os toiros tendem a acalmar-se e tudo decorre
normalmente.
E
como obra de arte a apreciar, é ver o maioral da praça de toiros de Las Ventas
em Madrid a recolher um toiro inutilizado pelo maioral da praça de seu nome
Florito. Como podem constatar neste vídeo disponível em http://www.youtube.com/watch?v=KsdsmjaMy-Y.
Bibliografia:
- Associação de Criadores de Bovinos Mertolengos (ACBM). (2011). Origem, história e evolução. Disponível em: http://www.mertolenga.com/conteudo.php?idm=79. Consulta efectuada em 1 de Março de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário