quinta-feira, 11 de abril de 2013

Olivença/ Olivenza


O aficionado da ilha Graciosa André Cunha, nos tendidos da praça de toiros de Olivença. 
Texto: André Cunha

Fotografia: Edgar Vieira

 

Do lado de cá, Olivença de Portugal, do lado de lá, Olivenza dos espanholitos. No território, o Guadiana serve de fronteira, do raio de uma Raia que teimava em ser protagonista de guerras civis. Não são terras distintas, a diferença está num simples Ç ou num Z. Afinal é de quem?

 

 

Olivença anda na boca do mundo taurino, recebe a primeira feira importante da temporada. Ao longo de três ou quatro dias é epicentro tauromáquico, e como romeiros na quaresma, aficionados ibéricos fazem questão de marcar presença e assistir às faenas dos “Ronaldos” e “Messis” dos toiros, um certame que prima pela qualidade das suas figuras (top 10), e que faz gerar receitas na ordem dos cinco milhões de euros naquela zona e arredores. Cinco milhões!

 

 

             “Salta pá carrinha! Vamos embora!”. Estava pronto, assim começava a longa mas descontraída viajem para o meu debute, pelo Ribatejo e terras do Alto-Alentejo, regiões e cidades que respiram bravura, desfrutando de toda a cultura taurina existente a cada esquina, o imenso planalto que este país oferece, a distinta gastronomia e o afável acolhimento. “Oh Elvas Oh Elvas, Badajoz à vista”. Assim trauteava Paco, e com razão, afinal é aqui tão perto… e de Badajoz a Olivença, é um rufe.

 

 

Ei-la, cidade antiga, estreitas ruelas com casas pouco volumosas, estilo rural e caiadas a branco. O ambiente é de festa, levando o frio para um plano insignificante. Ouve-se Flamenco, os bares e “las calles” tomam vida, ou melhor, não dormem durante aquele fim-de-semana repleto de animação, juvenilidade, gente gira, afición. “Vive la vida loca!”. Queijos e enchidos sobre mesas improvisadas em caixas de carrinha. Comida? Aos quilos! Vinho e cerveja? Aos litros! Marcante.

 

 

No exterior da praça é assim, lá dentro, a arquitectura não esconde a sua antiguidade, centenária. Quase centenários são também uma grande porção dos velhotes que entram em praça, e no olhar de cada um, a vontade de sair dali saciado. Na barreira, uma perna de presunto e alheiras também assistem à corrida. Aos poucos a bancada gélida e despida vai tomando forma, envolta numa neblina dos malogrados charutos. De um momento para o outro, só os olhos têm liberdade de movimento, e sigo à risca o conselho de gente experiente nestas andanças: nunca ser o último a sentar! Ao toque da banda de música, o almejado momento, entram os artistas, entram os toiros. Há toureiros, toiros e lides para todos os gostos, lenços brancos acenados vezes sem conta, sinal que o trofeu está a caminho. Cantadores espontâneos que emergem da multidão, treinadores de bancada. Alguém afirma: “- Não à festa sem toiro!”. Orelhas com fartura e um desejado indulto deixam-me concretizado. Hoje sei porque existem aficionados que vão a Olivença à 14 anos consecutivos. Não trouxe caramelos, mas trago na lembrança uns dias bem passados na companhia de boa gente, e sobretudo, a vontade de lá voltar.

 

 

            Termino com esta passagem de uma companheira de viajem: “Aquele silêncio total e absoluto, em que apenas os olés vibrantes rasgam a emoção que nos corre nas veias e a alegria de podermos pestanejar e sentir que ali estamos! Somos aficionados, olé!”

 

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