Texto e fotografia: Pedro Correia
As ganadarias bravas são explorações agro-pecuárias que
se diferenciam significativamente das restantes formas de produção de bovinos
(leite e carne). No entanto, de acordo com a região onde se localizam, as
ganadarias registam diferenças nos seus sistemas de produção. Na ilha Terceira,
há uma importância socio económica e cultural relevante quer nas touradas à
corda, quer nas de praça. Estas condições especificas da tauromaquia insular
fazem com que as ganadarias açorianas ganhem algumas especificidades em relação
às restantes que proliferam pelo resto do mundo. Pelos vistos as diferenças não
ocorrem apenas ao nível dos ecossistemas, chegam ser mesmo em aspectos tão
importantes como os modos de selecção aplicados.
É senso comum do meio taurino açoriano que há nas
ganadarias insulares uma selecção do toiro para a tourada à corda e de praça,
embora isto não seja regra em todas as ganadarias dos Açores. Efectivamente, as
questões surgem sobre quais as diferenças e semelhanças na selecção do toiro
bravo para estas duas vertentes (corda e praça), sendo que estes enigmas podem
ser respondidos de um modo objectivo.
Aliada à selecção do toiro bravo há sempre um certo grau
de subjectividade devido ao interesse em seleccionar caracteres comportamentais
de difícil mensuração. No entanto, independentemente de gostos diferentes, da
subjectividade existente, ou até em relação ao tipo de festejo, é um facto que,
quando surge um toiro realmente bravo, a grande maioria do público o reconhece
como tal. Isto ocorre tanto nas corridas de toiros em praça, como na tourada à
corda, embora admita que, no segundo caso, torne-se mais complicado avaliar as
condições dos animais devido à experiencia, ou às “manhas” que os toiros
adquirem pelas várias participações que fazem nos diferentes arraiais da ilha.
A presença do toiro com níveis de bravura acrescidos,
isto é, o animal que se predispõe a investir sempre que solicitado, sem
hesitar, e que o faça com força e de modo codicioso, é uma exigência clara das
duas vertentes taurinas (praça e corda). Claramente encontram aqui uma das
grandes semelhanças entre a selecção do toiro para ambas as vertentes. Esta
semelhança, é a grande responsável pela caracterização do toiro bravo, ou de
lide (bovino que tem como função o destino a espectáculos taurinos), assim como
a sua diferenciação das demais raças de bovinos existentes.
Por outro lado, as diferenças em termos de selecção
mostram-se essencialmente nos moldes, ou formas de como os animais investem. Enquanto
para a tourada de praça há uma selecção mais ou menos objectiva de acordo com
as regras fundamentais do toureio - parar, templar
e mandar, para a obtenção de animais com condições de lide, e em que há grande
interesse por parte dos criadores em atender aspectos como:
- Distância que uma rês é
capaz de percorrer investindo com a cabeça próxima do solo/ chão – Humilhar;
-Forma como mete a cabeça
nos enganos – Meter a cara/ Classe;
-Amplitude da investida, se
longa ou curta - Recorrido;
-Obediência total aos
estímulos de investida proporcionados na corrida de toiros, sem deixar de
perder o perigo que qualquer rês brava tem de transmitir - Nobreza;
- Extrema capacidade de se
fixar nos estímulos que o provocam (capote, muleta ou cavalo) – Fijesa.
Na tourada à corda como festejo de cariz plebeu, em que o
toiro deve tornar-se uma autentica fera, de modo a provocar emoção no público e
a proteger-se de uma falta de regra típica do espectáculo taurino popular, pode
suscitar uma selecção ligeiramente distinta, tal como ocorre nos Açores. Para
este festejo popular açoriano, a selecção pode não incidir tanto sobre a
complexidade dos aspectos apontados no parágrafo anterior, focando-se com maior
intensidade sobre características como a capacidade que o toiro tem para reagir
de forma impetuosa às provocações que recebe durante a sua permanência no
arraial, resistência, mobilidade e a regularidade das prestações dos animais
nas várias touradas em que participam.
Estas diferenças apontadas não devem ser indicadas como
regras absolutas, já que a determinação de ideologias, ou normas são impostas
por cada ganadeiro dentro da sua ganadaria. A organização destas ideias é
apenas uma forma de compreensão e transmissão de conceitos de uma realidade, e,
podendo depois contribuir para uma selecção com orientação definida e mais
clara. Para além disso, está claro que, qualquer tipo de toiro, seja ele
proveniente de um núcleo com selecção direccionada à tourada à corda, ou
tourada de praça, pode incorporar qualquer espectáculo taurino. Isto porque, as
diferenças que os animais poderão ter, simplesmente poderão afectar qualidades
plásticas, mas não o grau de emotividade e perigo do espectáculo, que é
influenciado em grande medida pelo aspecto semelhante entre os distintos modos
de selecção (corda ou praça), a bravura como capacidade de arremeter de modo
destemido e codicioso até ao final do espectáculo, associada ao trapío das reses.
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