sexta-feira, 17 de maio de 2013

A Selecção do Toiro Bravo nos Açores



 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

As ganadarias bravas são explorações agro-pecuárias que se diferenciam significativamente das restantes formas de produção de bovinos (leite e carne). No entanto, de acordo com a região onde se localizam, as ganadarias registam diferenças nos seus sistemas de produção. Na ilha Terceira, há uma importância socio económica e cultural relevante quer nas touradas à corda, quer nas de praça. Estas condições especificas da tauromaquia insular fazem com que as ganadarias açorianas ganhem algumas especificidades em relação às restantes que proliferam pelo resto do mundo. Pelos vistos as diferenças não ocorrem apenas ao nível dos ecossistemas, chegam ser mesmo em aspectos tão importantes como os modos de selecção aplicados.

 

 

É senso comum do meio taurino açoriano que há nas ganadarias insulares uma selecção do toiro para a tourada à corda e de praça, embora isto não seja regra em todas as ganadarias dos Açores. Efectivamente, as questões surgem sobre quais as diferenças e semelhanças na selecção do toiro bravo para estas duas vertentes (corda e praça), sendo que estes enigmas podem ser respondidos de um modo objectivo.

 

 

Aliada à selecção do toiro bravo há sempre um certo grau de subjectividade devido ao interesse em seleccionar caracteres comportamentais de difícil mensuração. No entanto, independentemente de gostos diferentes, da subjectividade existente, ou até em relação ao tipo de festejo, é um facto que, quando surge um toiro realmente bravo, a grande maioria do público o reconhece como tal. Isto ocorre tanto nas corridas de toiros em praça, como na tourada à corda, embora admita que, no segundo caso, torne-se mais complicado avaliar as condições dos animais devido à experiencia, ou às “manhas” que os toiros adquirem pelas várias participações que fazem nos diferentes arraiais da ilha.

 

 

A presença do toiro com níveis de bravura acrescidos, isto é, o animal que se predispõe a investir sempre que solicitado, sem hesitar, e que o faça com força e de modo codicioso, é uma exigência clara das duas vertentes taurinas (praça e corda). Claramente encontram aqui uma das grandes semelhanças entre a selecção do toiro para ambas as vertentes. Esta semelhança, é a grande responsável pela caracterização do toiro bravo, ou de lide (bovino que tem como função o destino a espectáculos taurinos), assim como a sua diferenciação das demais raças de bovinos existentes.

 

 

Por outro lado, as diferenças em termos de selecção mostram-se essencialmente nos moldes, ou formas de como os animais investem. Enquanto para a tourada de praça há uma selecção mais ou menos objectiva de acordo com as regras fundamentais do toureio - parar, templar e mandar, para a obtenção de animais com condições de lide, e em que há grande interesse por parte dos criadores em atender aspectos como:

- Distância que uma rês é capaz de percorrer investindo com a cabeça próxima do solo/ chão – Humilhar;

-Forma como mete a cabeça nos enganos – Meter a cara/ Classe;

-Amplitude da investida, se longa ou curta - Recorrido;

-Obediência total aos estímulos de investida proporcionados na corrida de toiros, sem deixar de perder o perigo que qualquer rês brava tem de transmitir - Nobreza;

- Extrema capacidade de se fixar nos estímulos que o provocam (capote, muleta ou cavalo) – Fijesa.

 

 

Na tourada à corda como festejo de cariz plebeu, em que o toiro deve tornar-se uma autentica fera, de modo a provocar emoção no público e a proteger-se de uma falta de regra típica do espectáculo taurino popular, pode suscitar uma selecção ligeiramente distinta, tal como ocorre nos Açores. Para este festejo popular açoriano, a selecção pode não incidir tanto sobre a complexidade dos aspectos apontados no parágrafo anterior, focando-se com maior intensidade sobre características como a capacidade que o toiro tem para reagir de forma impetuosa às provocações que recebe durante a sua permanência no arraial, resistência, mobilidade e a regularidade das prestações dos animais nas várias touradas em que participam.

 

 

Estas diferenças apontadas não devem ser indicadas como regras absolutas, já que a determinação de ideologias, ou normas são impostas por cada ganadeiro dentro da sua ganadaria. A organização destas ideias é apenas uma forma de compreensão e transmissão de conceitos de uma realidade, e, podendo depois contribuir para uma selecção com orientação definida e mais clara. Para além disso, está claro que, qualquer tipo de toiro, seja ele proveniente de um núcleo com selecção direccionada à tourada à corda, ou tourada de praça, pode incorporar qualquer espectáculo taurino. Isto porque, as diferenças que os animais poderão ter, simplesmente poderão afectar qualidades plásticas, mas não o grau de emotividade e perigo do espectáculo, que é influenciado em grande medida pelo aspecto semelhante entre os distintos modos de selecção (corda ou praça), a bravura como capacidade de arremeter de modo destemido e codicioso até ao final do espectáculo, associada ao trapío das reses.

 

 

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