Texto e fotografia: Pedro Correia
A colocação de uma rês brava para investir desde a sua
área de conforto (querença natural ou adquirida) para um local onde sofre uma
agressão (picador), faz com que a tenta com auxílio da técnica da sorte de
varas, seja um teste lógico para a selecção da bravura do toiro de lide. Estas
técnicas iniciadas há 300 anos a trás, por instituições religiosas, tais como os Frades
Cartuxos de Jerez para a selecção da bravura dos bovinos, continua a ser a
adoptada nos dias de hoje, nas ganadarias bravas de todo o mundo (Viard, 2011).
Usualmente, forcados, cavaleiros, ou recortadores,
colocam o toiro no local oposto à sua querença, já que facilita a investida da
rês, que, tende a procurar a zona onde se sente mais confortável para se
defender. Nesse momento, os intervenientes citados anteriormente aproveitam, e
actuam com maior facilidade e domínio sobre os toiros. Na aplicação da sorte de
varas ocorre o inverso, quer seja em tentas, ou em corridas de toiros. Neste caso,
interessa avaliar a facilidade com que a rês brava arranca do local que melhor
se sente a defender (querença) para um estímulo onde ocorre uma agressão sobre
ela (picador).
Dado ao comportamento gregário e memória que têm os
indivíduos de raça brava, eles têm como querença natural a porta dos curros, já
que é o local por onde saíram à arena, e onde factores como, o odor dos
restantes bovinos é mais forte. Este é o fundamento de o picador estar colocado
no local oposto à saída das reses à arena. No entanto, as querenças dos animais
podem ser alteradas devido a outros factores, tais como, animais mansos
tentados anteriormente em que deixaram o seu odor bem vincado em outro sítio da
arena, que não o da porta dos curros, ou vivencias passadas (Oliveira, 2012).
É necessário entender, que, para uma avaliação de uma rês
brava, quer seja ela, uma fêmea ou macho em tentadeiro, ou um toiro durante uma
tourada em praça, é necessário tomar a percepção que esse animal está ciente de
um teste exigente que tem pela frente. Sendo assim, o animal só consegue estar
ciente após a primeira ou segunda vara que lhe é infringida, e quando está
parado e atento, em frente do cavalo do picador. Estas regras, são muitas vezes
evocadas por aqueles que contestam, e bem, quando a mandado de toureiros em corridas
de toiros, os animais fazem apenas uma entrada ao cavalo do picador, ou a
técnica da sorte de varas é executada em maus modos, como ocorre na maioria das
vezes (Domecq, 1986 e Domecq, 2009).
A utilização regrada do tércio de varas, em corridas de
toiros e nas tentas de gado bravo resulta imprescindível, tal como refere
Fernández (2012), mesmo que as ganadarias levem os seus produtos apenas para
festejos populares, onde não se picam os animais. Aponta o mesmo autor, que a
eliminação da sorte de varas nas tentas das ganadarias, conduz a uma escolha
errada sobre os reprodutores que pretendem gerar animais mais bravos, levando a
uma consequente perca de qualidade das reses e aspecto comportamental que
demarca o Toiro de Lide, das demais raças de bovinos.
Tendo em conta a lógica que reúne a tenta e a técnica da
sorte de varas seguida nas linhas anteriores, parece que os primeiros ganadeiros,
que acerca de 300 anos constituíram a raça brava a partir de bovinos que tinham
a mesma origem das raças autóctones ibéricas, tal como referem Domecq (2009) e
UCTL (2011), conseguiam compreender de forma mais lógica a essência da sorte de
varas, em relação à realidade actual.
Bibliografia:
- Domecq, A. (1986). El Toro Bravo. Teoria y prática de la bravura. Ed. LT Espassa-Calpe, Madrid, 3ªed.,471pp.
- Domecq, J. P. (2009). Del Toreo a la Bravura. Alianza. Madrid. 23-140pp.
- Fernández, J. (2012). Médico veterinário. Comunicação pessoal sobre a importância da sorte de varas na selecção do toiro bravo.
- Oliveira, M. I. (2012). Representante da ganadaria portuguesa Herdeiros de Cunhal Patrício. Comunicação pessoal sobre o tentadeiro.
- U.C.T.L. (2011). Unión de Criadores de Toros de Lidia – Temporada 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário