quarta-feira, 26 de junho de 2013

Da Compreensão à Incompreensão da Sorte de Varas

 
 


Texto e fotografia: Pedro Correia

 

A colocação de uma rês brava para investir desde a sua área de conforto (querença natural ou adquirida) para um local onde sofre uma agressão (picador), faz com que a tenta com auxílio da técnica da sorte de varas, seja um teste lógico para a selecção da bravura do toiro de lide. Estas técnicas iniciadas há 300 anos a trás, por instituições religiosas, tais como os Frades Cartuxos de Jerez para a selecção da bravura dos bovinos, continua a ser a adoptada nos dias de hoje, nas ganadarias bravas de todo o mundo (Viard, 2011).

 

 

Usualmente, forcados, cavaleiros, ou recortadores, colocam o toiro no local oposto à sua querença, já que facilita a investida da rês, que, tende a procurar a zona onde se sente mais confortável para se defender. Nesse momento, os intervenientes citados anteriormente aproveitam, e actuam com maior facilidade e domínio sobre os toiros. Na aplicação da sorte de varas ocorre o inverso, quer seja em tentas, ou em corridas de toiros. Neste caso, interessa avaliar a facilidade com que a rês brava arranca do local que melhor se sente a defender (querença) para um estímulo onde ocorre uma agressão sobre ela (picador).

 

 

Dado ao comportamento gregário e memória que têm os indivíduos de raça brava, eles têm como querença natural a porta dos curros, já que é o local por onde saíram à arena, e onde factores como, o odor dos restantes bovinos é mais forte. Este é o fundamento de o picador estar colocado no local oposto à saída das reses à arena. No entanto, as querenças dos animais podem ser alteradas devido a outros factores, tais como, animais mansos tentados anteriormente em que deixaram o seu odor bem vincado em outro sítio da arena, que não o da porta dos curros, ou vivencias passadas (Oliveira, 2012).

 

 

É necessário entender, que, para uma avaliação de uma rês brava, quer seja ela, uma fêmea ou macho em tentadeiro, ou um toiro durante uma tourada em praça, é necessário tomar a percepção que esse animal está ciente de um teste exigente que tem pela frente. Sendo assim, o animal só consegue estar ciente após a primeira ou segunda vara que lhe é infringida, e quando está parado e atento, em frente do cavalo do picador. Estas regras, são muitas vezes evocadas por aqueles que contestam, e bem, quando a mandado de toureiros em corridas de toiros, os animais fazem apenas uma entrada ao cavalo do picador, ou a técnica da sorte de varas é executada em maus modos, como ocorre na maioria das vezes (Domecq, 1986 e Domecq, 2009).

 

 

A utilização regrada do tércio de varas, em corridas de toiros e nas tentas de gado bravo resulta imprescindível, tal como refere Fernández (2012), mesmo que as ganadarias levem os seus produtos apenas para festejos populares, onde não se picam os animais. Aponta o mesmo autor, que a eliminação da sorte de varas nas tentas das ganadarias, conduz a uma escolha errada sobre os reprodutores que pretendem gerar animais mais bravos, levando a uma consequente perca de qualidade das reses e aspecto comportamental que demarca o Toiro de Lide, das demais raças de bovinos.

 

 

Tendo em conta a lógica que reúne a tenta e a técnica da sorte de varas seguida nas linhas anteriores, parece que os primeiros ganadeiros, que acerca de 300 anos constituíram a raça brava a partir de bovinos que tinham a mesma origem das raças autóctones ibéricas, tal como referem Domecq (2009) e UCTL (2011), conseguiam compreender de forma mais lógica a essência da sorte de varas, em relação à realidade actual.

 

 

Bibliografia:

  • Domecq, A. (1986). El Toro Bravo. Teoria y prática de la bravura. Ed. LT Espassa-Calpe, Madrid, 3ªed.,471pp.

  • Domecq, J. P. (2009). Del Toreo a la Bravura. Alianza. Madrid. 23-140pp.

  • Fernández, J. (2012). Médico veterinário. Comunicação pessoal sobre a importância da sorte de varas na selecção do toiro bravo.

  • Oliveira, M. I. (2012). Representante da ganadaria portuguesa Herdeiros de Cunhal Patrício. Comunicação pessoal sobre o tentadeiro.

  • U.C.T.L. (2011). Unión de Criadores de Toros de Lidia – Temporada 2011.

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