quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nós Por Cá: “¡Ya Basta!”




 Texto e Fotografia: Pedro Correia

 Corria o ano de 2004 quando na compra de uma revista 6 Toros 6, mais precisamente a nº547, encontrava na capa uma fotografia de quatro toiros na Praça de Toiros México, escassos de presença e trapío, e no centro estava escrito: “La voz de la México clama ¡Ya Basta!”. Traduzindo para português ficaria algo como: “A voz da Praça de Toiros México clama ¡Já Basta!”.

 


Para quem desconhece, a Praça de Toiros México conhecida por La México tem uma lotação de cerca de 50.000 pessoas, o que faz deste recinto o maior do globo para a realização de corridas de toiros, e uma das mais importantes praças da América latina e do mundo. Por estas e por outras razões, as corridas de toiros na Praça México ganham especial relevância na visibilidade do México enquanto nação pela componente cultural e no seio interno da tauromaquia mundial. Realmente, só por estes motivos tinha de haver um ¡Ya Basta! pela falta de apresentação dos toiros.

 


A problemática da apresentação dos toiros é de uma importância fulcral. A diminuta apresentação das reses em corridas de toiros pode acarretar consequências nefastas na tauromaquia em termos gerais. O toiro é o eixo fundamental da festa e por isso deve ser cuidado de forma escrupulosa. Independentemente das realidades e importância de cada praça de toiros, se fizermos um raciocínio rápido, há dois aspectos que surgem e não devem ser prejudicados:

1) Lutar por um toiro com presença e trapío evidenciando uma tauromaquia com verdade;

2) A satisfação das pessoas que pagam o seu bilhete, que por norma procuram perigo e emoções fortes nas corridas de toiros, e isso será quase garantido quando se atinge o definido no ponto 1.


Isto escrito até parece fácil, mas visto que numa praça como é a México torna-se problema, como será em Portugal e nos Açores.

  

Nós por cá (Portugal em geral) estamos sujeitos a lóbis semelhantes aos que existem em outros países onde se realizam corridas de toiros. Contudo, temos a agravante de estarmos sujeitos a outras limitantes de foro específico, nomeadamente uma lei que chumba uma sorte de varas de forma inconsciente, e à teimosia de algumas pessoas em privar a liberdade dos outros. É mais que sabido que com estas duas condicionantes apenas privilegia-se a utilização de animais nas arenas portuguesas sem idade e consequentemente com falta de presença e trapío, sendo este aspecto mais notório no toureio a pé. Esta situação traduz-se rapidamente na falha dos pontos 1 e 2, referidos anteriormente. Contudo, embora seja o toureio a pé o mais lesado, o mesmo mal chega a afectar o toureio a cavalo em algumas circunstâncias.

  

É necessário entender que, a tauromaquia não pede distinções, ela exige emoção verdade e satisfação de quem paga o seu bilhete. Assim a festa brava poderá continuar a subsistir de modo saudável. Aqueles que julgam o contrário erram redondamente, contribuindo para um nível medíocre e fim da festa de toiros, quer na vertente mais formal (corrida de toiros), quer na vertente popular (largadas, touradas à corda, garraiadas, etc.).

 


No que diz respeito aos Açores, e ainda num passado recente, a falta de apresentação nos toiros que eram corridos em praça era notória no toureio a cavalo e a pé. Esta era uma forte problemática que, embora não esteja totalmente ultrapassada, felizmente começa a ser resolvida por boa vontade e saber, das entidades que organizam as corridas de toiros, pelos ganadeiros que desenvolvem o maneio das suas ganadarias (aspecto primordial, muitas vezes mais importante do que a selecção de um ponto de vista isolado), pelos aficionados que começam a exigir, etc. Contudo, os Açores, região rodeada de autonomias não deixa de conter a mesma problemática da lei portuguesa e a teimosia das gentes ressurge novamente, e quando da realização de toureio a pé, o toiro e os aficionados voltam a sair prejudicados.

  

Para finalizar há que entender que em Portugal, não excluindo  o caso especifico da região dos Açores, as gentes que se clamam aficionadas têm de organizar ideias coerentes, procurar reflectir sobre os problemas sem atirá-los para trás das costas, de estar consciencializadas e dizer que já basta de hipocrisias, lóbis sem interesse, de desrespeito, de acções inconscientes. A falta de profundidade, que muitas vezes existe na tauromaquia, reflectem-se no bolso dos que pagam os seus bilhetes, na qualidade da tauromaquia presente e na sua subsistência do ponto de vista cultural futura. Queiram também compreender que, já basta de prejudicar os toiros quando caminham para as praças sem a presença desejada. Este é um aspecto que realça inconsciência e falta de afición. A ausência da sorte de varas leva à impossibilidade de conseguir o toiro na sua plena magnitude de idade e trapío no toureio a pé em Portugal, acabando por criar um desleixo na apresentação dos toiros para a lide em outras manifestações tauromáquicas (toureio a cavalo, manifestações populares - tourada à corda, largadas, etc.), e por muito que custe a algumas pessoas aceitar essa realidade, têm de a aceitar para que a tauromaquia portuguesa em geral possa subsistir de modo saudável.Tal como no México em 2004, Portugal tem de clamar “Ya Basta!”.



*Nota: Os direitos de autor devem ser respeitados!

Se pretende utilizar este artigo deverá referenciar do seguinte modo:

Correia, P. (2013). Nós Por Cá: “¡Ya Basta!”. Toiros&Açores. Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2013/11/nos-por-ca-ya-basta.html. (aqui sugerimos que coloque a data em que viu o artigo)
 

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