Texto e fotografia: Pedro Correia
Decorria o ano de 2011 enquanto preparava a minha tese de
mestrado intitulada Posicionamento
Genético do Gado Bravo da Ilha Terceira em Relação à Raça Brava de Lide. Publicação atrás de publicação com o intuito de estudar o
tema e redigir documento, analisei as fontes Cañón et al. (2007) e Cañón et al.
(2008), onde deparava-me com o seguinte raciocínio que escrevi do seguinte modo
na tese anteriormente mencionada:
“O
ganadeiro que adquire ou herda uma ganadaria sente a necessidade de conservar e
melhorar esse património genético e de os transmitir aos seus herdeiros.”
Citação em tese de mestrado:
Posicionamento Genético do
Gado Bravo da Ilha Terceira em Relação à Raça Brava de Lide. Página 14.
É realmente uma singularidade que ocorre nas ganadarias
bravas e que muitas vezes são abordadas pela sociedade comum como um mérito
familiar, mas que ganha enormes repercussões de natureza antropológica, zoológica,
ecológica e por sua vez cultural. A título de exemplos são as conservações de
importantes patrimónios zoológicos desenvolvidos a partir de famílias num período
temporal secular, a sustentabilidade das culturas tauromáquicas, taurinas de um
modo geral e da própria humanidade.
Nos Açores, estas passagens de testemunhos entre pais e
filhos ganham especificidades peculiares devido às características da
tauromaquia loca, onde muitas vezes os gostos da actividade de ganadeiro,
adquirem-se a partir de gente humilde, em que muitas das vezes foram pastores
de outras casas de bravo. Nos Açores a ligação entre ganadeiro e pastor ganha
uma especial relevância, sendo que muitas vezes a posição do colaborador de uma
ganadaria fomenta o surgimento de outra. Deste ponto de vista, Gabriel Ourique,
Manuel João Rocha e João Quinteiro são exemplos evidentes de uma conexão restrita
entre as duas figuras do campo bravo que são o ganadeiro e o pastor.
Constituídas as novas ganadarias a partir de indivíduos outrora
pastores em outras casas de bravo insulares, os jovens ganadeiros costumam
manter o gosto às duas faces, e na maioria dos casos, na sua nova ganadaria
continuam a desempenhar as funções de homem da corda nas tão conhecidas
touradas populares açorianas. Por sua vez, os filhos dos novos ganadeiros/
pastores, revêm-se nos pais e tal como os seus ascendentes, fazem do pastor a
escola da actividade que é a ganadaria brava. São exemplos disso a casa
Ezequiel Rodrigues com José Manuel Rodrigues e seu filho Rodrigo Rodrigues, na
de Humberto Filipe com José Sousa, na ganadaria Gabriel Ourique através de
Anselmo Ourique, em João Quinteiro com João Gaspar, que já na sua ganadaria
independente à do pai, continua com a mesma saga na presença assídua do seu
filho João Paulo Gaspar.
Nesta ultimas ganadarias citadas (João Quinteiro e João
Gaspar - filho), surge um novo movimento, falo da independência ganadeira
adquirida pelo filho na compra da extinta ganadaria de Irmãos Toste, havendo no
mesmo período temporal a gerência ganadeira do pai sobre o ferro G com J no
interior.
Em suma, estes processos sociológicos que ocorrem de
forma banal no meio da sociedade, ganham especial relevância na influência da
sustentabilidade desta cultura. A temática aqui abordada, merece uma análise
cuidada pelas suas particularidades locais, quer do ponto de vista cientifico,
mas principalmente pelas pessoas inerentes ao meio tauromáquico no sentido de sensibilizar
sociedade em geral, classe politica e promover a investigação destes assuntos.
Bibliografia:
Cañón, J;
Cortés, O; García, D; García-Atance, M. A; Tupac-Yupanqui, I; Dunner, S. (2007)
Distribución de la variabilidad genética en la raza de lidia. Archivos de Zootecnia,
56 (Sup. 1): 391-396.
Cañón, J;
Tupac-Yupanqui, I; García-Atance, M. A; Cortés, O; Garcia, D; Fernández, J; Dunner
S. (2008). Genetic variation within the Lidia bovine breed. International Society
for Animal Genetics, Animal Genetics, 39, 439–445 doi:10.1111/j.1365- 2052.2008.01738.x
Correia, P. B.
C. (2012). Posicionamento genético do gado bravo da ilha Terceira em relação à
Raça Brava de Lide. Angra do Heroísmo: Universidade dos Açores. IX, 85 f..
Dissertação de Mestrado. Disponivel em: https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/1543/1/DissertMestradoPedroBettencourtCardosoCorreia2012.pdf.
Consulta efectuada em 17 de Março de 2013
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