quinta-feira, 25 de abril de 2013

Ferra da Liberdade

 


 

Texto e fotografia: Pedro Correia

 

Dia 25 de Abril é uma data importante em Portugal pela recordação do fatídico golpe de estado do ano de 1974, que trouxe ao país luso a luz da democracia. Esta ultima palavra, democracia, que é também uma máxima importante da festa brava. Curiosamente, este é o dia que habitualmente a ganadaria terceirense de Humberto Filipe usa para ferrar o seu gado. Mas porquê falar em liberdade e ferras de gado bravo? Apenas unir uma palavra com grande transmissão de valores à explicação de algumas curiosidades da faina de campo que é a ferra, que, parecendo que não, tem uma comutações bem vincadas.

 

Passaremos a explicar, com base em dois autores, Domecq (2009) e Viard (2011):

 

Para os menos entendidos, o ferro das ganadarias é colocado no membro posterior do animal, geralmente em ganadarias portuguesas e espanholas, do lado direito. Por cima, ou seja, na garupa ficará colocado o ferro da associação a que pertence o animal, ou livro genealógico onde a rês está registada. Esta norma nem sempre é regra e por vezes ganadeiros tomam a liberdade de colocar o ferro da sua casa com posições diferentes, de modo a fornecer informações que vão além de uma mera identificação individual de uma rês.  
 
 
A inversão das regras comuns, ou mais usuais, é efectuada quando os ganadeiros pretendem obter mais informação, a partir das marcas dos ferros. A famosa ganadaria espanhola de Miura tem animais em que o ferro da ganadaria é colocado na garupa e outros tem a marca na perna. Esta estratégia serve para uma observação rápida de uma ascendencia dos animais: Se o ferro da ganadaria Miura (A com asas), estiver colocado no membro e o da associação (U – Unión de Criadores de Toros de Lidia) na garupa o animal tem uma ascendência; se de outra linhagem, o ferro da casa será colocado na garupa e o da associação no membro. Como devem depreender, esta metodologia serve para uma fácil determinação da ascendência dos animais no campo sem olhar a papeis, no entanto, nunca menosprezando os valores dos registos em documentos que devem ser feitos nas ganadarias (Viard, 2011).

 

 

Outro exemplo claro da alteração da posição do ferro da ganadaria, em função de captar outra informação, é o caso da extinta ganadaria dos Duques de Veragua. Nesta ganadaria com origem na Casta Vasquenha, que actualmente não existe, mas que constituiu o encaste de Veragua, hoje em dia em apenas duas ganadarias, o ferro tomava diferentes orientações. A diferente orientação do ferro, proporcionava o conhecimento exclusivo da ascendência materna, já que os Duques de Veragua colocavam vários sementais a cobrir as vacas em simultâneo, e, por isso, não havia o que é designado por enlotado – separação de lotes de vacas com apenas um semental, ou seja, fazer lotes (Domecq, 2009).

 

 

Em suma, estes exemplos e explicações demonstram que, a imposição de regras só tem sentido quando há uma percepção da aplicação prática daquilo que se trata. Por outro lado, e tendo em conta a abordagem inicial realizada, demonstramos que a simples faina de campo, que é a ferra, pode ter muitas mais funções do que uma mera identificação individual, mas também pode actuar como metodologia de marca geral da ganadaria como facilidade do maneio dos animais, isto se houver um espirito de compreensão e liberdade do ganadeiro, assim como dos profissionais da área.
 

 

Bibliografia:

Domecq, J. P. (2009). Del Toreo a la Bravura. Alianza. Madrid. 23-140pp.

Viard, A. Tierras Taurinas – Miura el Centinela. Opus 7.


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