Texto e fotografia: Pedro Correia
O trapío é um
termo de origem espanhola bem conhecido no que diz respeito ao aspecto das
reses bravas. O tema já foi abordado no blog Toiros & Açores por Correia
(2013a; 2013b) quanto à sua definição e problemática. As confusões subjacente à
classificação do trapío são
frequentes e por isso a análise desta problemática nunca é em demasia.
Segundo Rufino (2009) a classificação do trapío de um toiro deve-se basear apenas
em aspectos morfológicos e deixar de parte a componente temperamental das reses
bravas. O mesmo autor em crítica a outros autores que mesclam as duas
componentes essenciais de um toiro bravo, refere que raças as mansas utilizadas
para a produção cárnica, tais como Limousine ou Charolês podem alcançar trapío. Esta ideologia que admite alguma
objectividade na análise do trapío
pode tornar-se perigosa, podendo suscitar uma avaliação deturpada do parâmetro
em questão.
É necessário compreender que, muitos toiros podem ser
estampas à primeira vista e criar um forte impacto visual, contudo, podem não
reunir as condições necessárias para suportar uma lide que na maioria dos casos
não vai muito mais além dos 10 minutos. Neste parâmetro, qualquer bovino de
raça mansa para a produção cárnica chumba claramente, pois não reúne as formas
corporais necessárias para investir e para suportar um exercício físico como é
a lide.
A comparação deturpada do trapío com as raças mansas de aptidão para a produção carne, reúne
ainda outra problemática, que é a selecção sobre um carácter chamado hastes, ou
córnea. As hastes são uma característica rejeitada nas raças de produção leite
e carne, exceptuando as autóctones que devem manter o seu padrão morfológico
conservado. No sentido oposto, está a raça Brava de Lide, onde as hastes são um
carácter que é privilegiado no seu melhoramento genético exactamente para que
possam ter trapío.
A analogia elaborada por Rufino (2009) pode ser
transposta apenas à raça Brava de Lide quanto à sua estrutura genética baseada
em diversas linhas, que na tauromaquia são denominadas por encastes. Existe o protótipo
da raça Brava de Lide amplamente detalhado por Montesinos (2002), onde podem
ser observadas evidentes diferenças morfológicas e comportamentais que os diversos
encastes reúnem entre si. Analisando as diferenças entre os demais encastes chega-se
à conclusão que, nem todos os encastes têm a capacidade para suportar o mesmo
peso, reunir a mesma dimensão das hastes, o mesmo olhar, as mesmas formas
corporais, etc. A título de exemplo, um toiro de encaste Santa Coloma com um
peso entre os 550 a 600 kg dificilmente terá trapío, pois a sua capacidade de locomoção e de resistência poderá
ser posta em causa por um excesso de peso que o esqueleto do individuo não suporta.
Serve o presente artigo para alertar o leitor para uma
análise critica sobre o trapío e evidentemente sobre outros assuntos. Este escrito
não serve de forma alguma criticar de forma prejudicial o autor Rufino (2009)
que apenas tentou passar a ideia real que o trapío
num toiro deve ser interpretado pela beleza. Contudo, tal como refere Cid
(2001) na abordagem ao trapío, a
beleza deve estar associada à função. Nesse sentido, o toiro bravo tem de ser belo,
isto é, bonito mas também tem de reunir as condições morfológicas para que possa transmitir emoção e desempenhar
a sua função que é a lide.
Bibliografia:
Cid, P. S.
(2001). O Exterior dos Bovinos das Raças Autóctones. Edições Garrido.
Correia, P. (2013a). Trapío. Toiros & Açores.
Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2013/01/trapio.html.
Consulta efectuada a 30 de Maio de 2013.
Correia, P. (2013b). Trapío II. Toiros & Açores.
Disponível em: http://toiroseacores.blogspot.pt/2013/05/trapio-ii.html.
Consulta efectuada a 7 de Novembro de 2013.
Montesinos, A.
(2002). Prototipos Raciales del Toro de Lidia. Ed. Ministerio de Agricultura,
Pesca y Alimentación, Madrid.45-90 pp
Rufino J. M. (2009). Conocer y Seleccionar El Ganado
Vacuno Bravo de Lidia. Visión Libros.
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